quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Gravidade zero: como funciona o voo que te faz flutuar

Terra experimentou um ambiente sem a presença da força gravitacional terrestre; gravidade de Marte e da Lua também foram sentidas


(Terra) Imagine que você está deitado, sentindo o corpo quase duas vezes mais pesado do que de fato é. Não parece muito, mas já é o suficiente para você ter alguma dificuldade para fazer coisas simples como levantar pernas e braços. Virar o pescoço, então, pode ser uma tarefa realmente complicada. De repente, seus membros inferiores, antes colados no assoalho, arqueiam. Imediatamente, os superiores sobem também e você fica, por não mais do que um segundo, como se estivesse sentado, e então você já está grudado no teto, flutuando, leve como uma pluma, independentemente do seu peso real. Pois é isso que ocorre quando você faz um voo parabólico, que simula um ambiente sem gravidade, fazendo o passageiro se sentir por breves 30 segundos (repetidas vezes) como se estivesse no espaço.

O voo experimentado pelo Terra partiu do Space Coast Regional Airport, na Flórida, com pouco mais de 40 passageiros, entre os quais alguns vencedores do Axe Apollo Space Academy (AASA) e jornalistas de diversas partes do mundo. O avião, um Boeing 727-200 adaptado pela empresa Zero G (que ainda não tem planos de realizar esses voos fora dos Estados Unidos), se deslocou para uma região sem tráfego aéreo durante cerca de 30 minutos. Antes, já havíamos assistido a um vídeo apresentando as manobras e com recomendações de como deveríamos nos portar a bordo.

Para nos acostumarmos gradualmente, começaríamos sentindo como se estivéssemos em Marte, onde a gravidade equivale a 1/3 da força gravitacional da Terra. Depois, seríamos apresentados à gravidade lunar, equivalente a 1/6 da terráquea. Nesses dois casos, era possível, por exemplo, fazer apoios sem muito esforço, levantar colegas com uma mão ou caminhar como os astronautas na Lua.

Finalmente, conheceríamos a libertação da força gravitacional. Isso tudo a mais de 7,3 mil metros de altitude.

Para realizar essas simulações, é necessário que a aeronave faça o chamado voo parabólico, quando, em vez de se manter em linha reta, ela transcorre um percurso subindo e descendo, tal qual numa montanha russa, mas sem que os passageiros se sintam em uma – pelo menos a maioria deles, mas isso vai depender de cada pessoa; em nosso voo, uma repórter espanhola ficou enjoada logo no início e, duas horas depois, ainda estava enfrentando as consequências.

Para simular as gravidades lunar e marciana, o avião percorre um trajeto diferente, a fim de alargar o arco no topo da parábola.

Flutuando em gravidade zero
Divididos em três grupos, de acordo com a cor das meias que ganhamos, aguardamos sentados até o avião chegar ao ponto estabelecido para as manobras. Só então os instrutores de cada equipe chamam os recrutas para a área acolchoada que se estende à frente das poltronas. Lá, sentamos em roda para receber as últimas orientações e, feito isso, deitamos para aguardar a primeira subida.

É ao subir, respeitando ângulos e velocidades determinados, que o avião nos faz sentir o aumento da força G – aquela que deixa nosso corpo mais pesado. E quando a aeronave chega ao topo do arco imaginário, ficamos leve, sensação que vai aumentar e se manter pelos próximos 30 segundos, enquanto o avião está descendo com o bico inclinado, formando um ângulo de 30°.

Essa é a hora da diversão, quando é possível virar cambalhota, catar balinhas coloridas no ar, tentar beber água enquanto você e ela flutuam (e depois ver a água cair em cima de alguém quando o efeito da gravidade zero acaba). Dá para colocar o pé no teto e se esticar, voar como um herói de quadrinhos ou fazer o que sua imaginação e disposição permitirem, com cuidado para não machucar ninguém (é preciso ficar atento aos avisos dos instrutores, pois quando o avião retoma a subida, caímos do jeito que for).

E se até aqui você não enjoou, então a sensação deve ter sido realmente muito boa. E, no fim, o número de subidas e descidas (geralmente entre 12 e 15), que antes do voo temíamos ser um tanto exagerado, parece insuficiente – talvez seja justamente esse o segredo para manter a diversão. O sentimento, contudo, é de que a experiência de flutuar em um ambiente de gravidade zero poderia durar muito mais tempo que continuaríamos lá, brincando feito crianças.

----
Matéria com infográfico aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário