quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Buzz Aldrin defende exploração do espaço por empresas privadas


(Terra) Às 7h30 (horário local, 10h30 no Brasil), exatos 15 minutos antes do combinado, lá estava eu em frente à porta do quarto 418 do Waldorf Astoria. Pensei em bater, mas como cheguei adiantado não queria atrapalhar meu entrevistado. E se ele ficasse incomodado com a chegada antecipada? E se até mesmo cancelasse a entrevista? As dúvidas não tiveram tempo para crescer em minha mente tão ansiosa naquele momento. Em questão de segundos, uma das assessoras do Axe Apollo Space Academy (AASA) apareceu no corredor e, gentilmente, informou-me que “Mr. Aldrin” ainda não estava pronto, pedindo que eu retornasse em vinte minutos.

Foi assim, sem contato visual, apenas sabendo que do outro lado da porta o segundo homem a pisar na Lua estava se aprontando para falar comigo, que iniciou minha quinta-feira.

Voltei ao meu quarto, apenas quatro andares acima e, no pouco tempo que tive, revisei as perguntas que havia escrito na noite anterior – o que não me impediu de apresentar um inglês gago depois. Inicialmente eram oito questões que gostaria de abordar, mas que poderiam se transformar em mais, dependendo das respostas que ele desse nos 15 minutos que tínhamos. Mas e se ele falasse pouco ou respondesse brevemente? Uma entrevista tão cedo, poderia não estar disposto naquele momento.

Retornei no horário combinado e aguardei um pouco mais do lado de fora. Quando a porta do quarto se abriu, lá estava o ex-astronauta Edwin Eugene Aldrin Jr sentado em uma poltrona ao lado de uma mesa com uma xícara de café, alguns petiscos e uma réplica da nave que levará 22 pessoas para o espaço em 2014. Com um largo sorriso, o simpático senhor de 83 anos se levantou, aceitou meu cumprimento de mão e começou a falar. De uma fala informal ele imediatamente passou para um discurso ensaiado sobre o programa que agora representava, sem sequer me dar tempo para iniciar a gravação formal do vídeo que faria. Mas o que importa? Ali estava Buzz Aldrin, herói mundial, com toda a boa vontade e delicadeza do mundo, me recebendo como um amigo.

Confira, a seguir, os principais trechos da conversa.

Terra - Você planeja viajar com eles?
Buzz Aldrin - Bem, eu tenho acesso à oportunidade de escolher uma pessoa e estive algumas vezes mais lá em cima e de volta. Eu penso que há outras pessoas que estarão melhor do que eu.

Terra - Você sente falta de estar no espaço?
Aldrin - Bem, há novas pessoas vindo. Mais jovens. Por exemplo, nós três na Apollo 11 decidimos, já que seríamos os primeiros a pousar na Lua, não precisávamos estar na rotação (de astronautas) porque estaríamos impedindo outras pessoas de participar. Nós tomamos essa posição e pudemos dividir essa experiência com outras pessoas e com o mundo.

Terra - Neste momento em que os Estados Unidos e outros países estão cortando seus investimentos, o quão importante são projetos como este que você está promovendo? Qual é o papel destas empresas privadas no futuro da exploração espacial?
Aldrin - Eu penso que o quartel-general da Space Expedition Corporation, em Amsterdã, indica que naquela região, nos Países Baixos e na Escandinávia, eles estão muito interessados e estão em contato com a Agência Espacial Europeia (ESA). Talvez tenham alguns voos iniciais nas Antilhas Holandesas, em Curaçao.

Eu estive no Brasil e visitei Alcântara, suas grandes instalações, e falei com diversas pessoas que são importantes ao programa espacial brasileiro. Estive no Reino Unido. Na Rússia várias vezes. Visitei o Japão e a China. Fiz muitos contatos na China.

Está crescendo uma atividade comercial ao redor do mundo para construir um potencial de não apenas os governos fazerem as coisas.

Há o programa Mars One, nos Países Baixos. Eu descobri que o programa deles é bem sólido. Baseado em opiniões técnicas, eles vão precisar de muitos recursos para conseguir chegar lá. Talvez existam meios de ajudá-los a conseguir.

Terra - Falando sobre Marte. Faz quase 45 anos desde que você colocou seu pé na Lua e nós ainda não colocamos nosso pé em Marte. Se considerarmos isso e os últimos 25 anos, em que especial a tecnologia se desenvolveu de uma maneira muito rápida, não estamos atrasados no projeto de colocar um homem em Marte?
Aldrin - Sim. Ocorreram diversos obstáculos financeiros nesse meio tempo. O conflito no Vietnã (por exemplo). E ficamos envolvidos em atividades contra radicais, jihadistas no Oriente Médio. Nós tivemos que financiar missões após a Apollo, como (a estação espacial) Skylab, que nos deu recorde de tempo no espaço, ao mesmo tempo que os russos construíram a Soyuz. Nós nos juntamos a eles na estação espacial Mir. E passamos um longo tempo desenvolvendo e construindo a Estação Espacial (Internacional), o telescópio Hubble e buscando outros tipos de telescópio e a busca por planetas.

Então tivemos diversas atividades nas quais os Estados Unidos foram extremamente bem, como colocar robôs em Marte. Enquanto nosso principal competidor, a União Soviética, agora a Rússia, teve má sorte com sua agência espacial (nas missões para Marte). E agora a Índia fez uma espaçonave que está indo lá (para o planeta vermelho).

Eu acho que há uma certa indicação para nós fazermos o que fizemos há 50 anos, colocar as pessoas para fazer o mesmo que elas fizeram há 50 anos: nossa habilidade de fazer robótica a distância em Marte, as sondas, indica que temos que colocar sondas na Lua.

E o que fazemos nesses pontos neutros não requer pessoas, a não ser pessoas de negócios que talvez achem os recursos para colocar pessoas selecionadas. Mas sem muito suporte do governo. Nós preservamos os recursos do governo. Essa é a minha teoria.

Meu livro Mission to Mars (Missão a Marte, em tradução livre) foi lançado em maio, não traduzido para o português até onde eu sei, mas eu espero que seja.

Cerca de 20 anos atrás, eu fiquei admirado com a ideia de usar os ônibus espaciais para levar não profissionais. Turistas. E como os selecionaríamos? Alguém disse: 'loteria?' E pareceu interessante para mim.

Eu fiquei interessado em como implementar essa ideia. E o pessoal da Space Exploration Corporation talvez tenha descoberto que eu estava interessado na loteria. Eles fizeram um trabalho muito mais rápido do que eu poderia ter feito ao reunir gente. (Eles têm) muitos recursos e eles apelaram aos produtos Axe para pessoas jovens através de comerciais de TV e outros meios que alcançaram, em 60 nações, 1 milhão de pessoas que se inscreveram de graça.

Isso demonstra o interesse. Nós queremos ainda mais ver como interessante seria bom mostrar essas pessoas de volta aos seus países com um herói, um modelo. E isso pode dar mais e mais interesse no espaço.
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Matéria com vídeo aqui

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