terça-feira, 10 de julho de 2012

Brasil Desenvolve Satélite em Parceria com Alemanha


(Valor Econômico / Brazilian Space) O Brasil está desenvolvendo um novo foguete em parceria com o Centro Aeroespacial Alemão (DLR) para lançar o experimento científico Shefex 3 (da sigla em inglês Sharp Edge Flight Experiment). Trata-se de um programa europeu que vem testando o comportamento de novos materiais e tipos de proteção térmica necessários para o desenvolvimento de tecnologia de voos hipersônicos e de veículos lançadores reutilizáveis.

Enquanto o novo foguete, batizado de VLM-1 (Veículo Lançador de Microssatélites) não fica pronto, o Programa Europeu de Microgravidade vem usando, desde 2005, os foguetes de sondagem desenvolvidos pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço, órgão de pesquisa e desenvolvimento do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial.

O centro alemão está bancando 25% dos custos de desenvolvimento do VLM-1, cujo investimento total é estimado em R$ 100 milhões. A Agência Espacial Brasileira está destinando R$ 10 milhões ao projeto para este ano.

O foguete brasileiro vai atender às necessidades do programa espacial alemão e entrar em um nicho de mercado pouco explorado. "Os concorrentes do VLM são os foguetes de grande porte, que levam os microssatélites de carona. Não existe no mercado um veículo específico para o lançamento de microssatélites e nanossatélites, segmento que está crescendo muito devido à miniaturização da tecnologia eletrônica", explicou o coordenador do projeto no Instituto de Aeronáutica, Luís Eduardo Loures.

No dia 24 de junho, um foguete de sondagem brasileiro VS-40 lançou o experimento Shefex 2, a partir do Centro de Andoya, na Noruega. O foguete brasileiro VSB-30 já realizou 13 missões bem-sucedidas na Europa em parceria com a organização alemã. No total, o Brasil já conseguiu atingir a marca de 18 lançamentos sem falhas com seus foguetes de sondagem VS30, VSB-30 e VS-40.

Centro alemão vai arcar com
25% do projeto, que poderá
receber investimento total
de R$ 100 milhões

A operação do Shefex 2, financiada pela Alemanha, teve um custo € 10 milhões. Considerado o principal programa espacial da Alemanha, o Shefex 2 consumiu outros € 6 milhões no desenvolvimento do experimento que foi lançado pelo foguete brasileiro.

Loures explicou que a principal diferença do novo foguete, que está sendo desenvolvido para suportar a missão Shefex 3 em 2015, está na capacidade dos motores. O veículo leva menos de 5 toneladas de propelente (combustível de foguete), enquanto o VLM-1 poderá levar cerca de 28 toneladas desse combustível.

O projeto do Shefex 3 também já está sendo feito em parceria com a indústria brasileira, que negocia a formação de um consórcio para participar desse novo desenvolvimento. "Estamos criando um projeto que dará sustentabilidade para a indústria nacional, porque o produto final tem mercado e um custo de lançamento baixo, inferior a US$ 10 milhões", ressaltou.

Concorrentes do porte do lançador americano Taurus, por exemplo, segundo Loures, têm um custo de lançamento da ordem de US$ 20 milhões. Loures comentou que outros foguetes estrangeiros, como os russos Dnepr e o Cosmos, e o indiano PSLV têm um custo da ordem de US$ 25 milhões a US$ 30 milhões, mas foram projetados para lançar cargas acima de mil quilos em órbita baixa.

Os microssatélites, segundo Loures, apresentam como vantagem o baixo custo de produção, nível de complexidade reduzido e ciclo de desenvolvimento rápido. "Devido à demanda crescente, já existe um mercado identificado para pequenos foguetes do porte do VLM-1 de três lançamentos por ano, segundo a agência americana Federal Aviation Administration (FAA)", disse ele.

O pesquisador comentou que alguns estudos já indicam um mercado ainda mais promissor, de cerca de 20 lançamentos anuais. O ciclo de desenvolvimento dos microssatélites é de dois anos, mas como eles são lançados com satélites maiores, precisam esperar até um ano para conseguir uma vaga nos lançadores de maior porte.

Rapidez na Produção e Leveza com Fibra de Carbono
O lançamento do experimento científico alemão Shefex 3 será feito pelo foguete brasileiro VLM-1, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. O veículo possui três estágios e pode ser utilizado como foguete de sondagem para cargas úteis (microssatélites e nanossatélites) mais pesadas, de até 500 quilos. No total, o VLM-1 pesará 28 toneladas.

"Adotamos a estratégia de desenvolvimento simplificado com projetos que já funcionam bem", explicou o coordenador Luís Eduardo Loures, do Instituto de aeronáutica e Espaço.

O pesquisador citou como exemplo o segundo estágio do foguete VS40-M, que lançou o Shefex 2 recentemente e tem 90% de similaridade com o terceiro estágio do VLM-1. A parte eletrônica do VLM, segundo Loures, corresponde a 70% da eletrônica que está sendo adotada para o Veículo Lançador de Satélites, em fase final de desenvolvimento.

O primeiro e segundo estágios do novo foguete, porém, terão um motor novo, batizado de S50, o maior motor foguete já feito pelo Brasil. O diferencial do S50, segundo Loures, é que ele está sendo feito em fibra de carbono, o que garantirá um desempenho estrutural melhor, além de pesar menos que os motores metálicos.

O tempo de produção também é considerado uma vantagem, pois pode ser fabricado em apenas três meses, comparado a um motor foguete metálico, que leva de 18 a 20 meses. Outro diferencial do VLM-1 é o desenvolvimento em parceria com a indústria nacional.(VS)

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