quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Turismo espacial ainda não é confiável, diz especialista

Se apoiar em tecnologia complexa ainda é empecilho do turismo espacial


(R7) Uma das notícias que mais causou comoção no mundo da aeronáutica recentemente foi a queda da nave da Virgin Galactic durante um voo de teste no dia 31 de outubro. Apesar de existirem casos de viagens ao espaço que obtiveram sucesso, esses acidentes podem prejudicar o crescimento do setor de viagens turísticas ao espaço antes mesmo de que a primeira viagem do tipo seja realizada

A empresa de Richard Branson informou no último sábado (8) que recebeu pedidos de cancelamento de passagens ao espaço. Mesmo assim, a Virgin Galactic deve continuar com os testes nos próximos meses.

O acidente do avião da Virgin fez uma vítima fatal: o copiloto Michael Alsbury morreu na queda. O piloto Peter Siebold ficou gravemente ferido. Apesar dos esforços, ainda não se sabe o que causou o acidente: os investigadores suspeitam que o uso de um novo tipo de combustível tenha causado a explosão, mas será necessário esperar pelo menos mais alguns meses para que seja possível precisar a causa do trágico evento.

O diretor industrial da Inbra Aerospace, Melis de Bruyn, explica que, apesar de triste, os acidentes durante testes são um risco constante.

— Nenhum acidente pode ser considerado normal, pela perda de vidas ou prejuízos materiais entre outras consequências; porém a história mostra que eles são muito frequentes quando uma tecnologia complexa está em desenvolvimento, pois como se trata de algo novo, não se tem conhecimento acumulado suficiente para prevenir todo e qualquer risco de acidente.

Riscos e limitações
O turismo espacial é um dos projetos que mais atraem milionários do mundo. Só na lista da Virgin, 800 pessoas - entre Ashton Kutcher, Tom Hanks e Katy Perry – já desembolsaram milhares de dólares para viajar ao espaço. No caso da empresa norte-americana, a proposta é levar os turistas em um voo suborbital, ou seja, em uma altitude acima de 100 km.

Nesse tipo de voo, a nave atinge o espaço, mas a sua trajetória cruza a atmosfera de uma maneira que não efetue uma revolução orbital completa. Ou seja: o turismo espacial está bem longe de levar o homem à Lua.

A viagem ao espaço em si já é uma tecnologia dominada pelas grandes agências espaciais do mundo. No turismo espacial, entretanto, a situação muda um pouco de figura: Melis explica que viabilizar esse tipo de tecnologia para poder fazer viagens espaciais apenas com cunho turístico pode ser uma iniciativa complicada.

— O desafio de levar o homem ao espaço e trazê-lo de volta já foi superado há muitos anos, então o conhecimento técnico necessário para estas viagens deixou de ser empecilho. O maior desafio atualmente é simplificar a tecnologia e torná-la acessível e tão confiável quanto um voo de avião, de modo que tanto as autoridades aeronáuticas quanto as empresas que venham a oferecer estes voos e seus possíveis passageiros tenham confiança em sua segurança, mesmo a preços elevados.

Além disso, a própria viagem ao espaço também tem os seus riscos. De acordo com Melis, mesmo hoje em dia as agências espaciais se preocupam com a decolagem e a reentrada da nave na atmosfera, já que são os momentos mais críticos.

O maior perigo na hora da decolagem é o risco de uma explosão por causa do combustível, como o que aconteceu no final de outubro deste ano com a nave Cygnus, que iria levar mantimentos para os astronautas na EEI (Estação Espacial Internacional). Já na volta, a grande preocupação dos engenheiros está relacionada ao atrito com o ar, que pode fazer a temperatura da nave subir até mil graus, aumentando a possibilidade de incêndios.

Melis explica que os riscos não param por aí. Dentro da nave, é necessário também tomar medidas para manter a segurança dos tripulantes.

— As condições no espaço não permitem a sobrevivência de um ser humano e, por isso, as naves precisam manter artificialmente um ambiente compatível com a vida durante toda a viagem. O ar que se respira, a água, os alimentos e tudo mais que se necessita para viver precisam ser levados da Terra. Se houver um vazamento grande o bastante para acabar com o ar disponível, as pessoas não terão mais como respirar.

Além disso, as naves devem estar equipadas com o maquinário necessário para manter a temperatura amena, já que no exterior, do lado de fora da atmosfera terrestre, o clima pode passar do congelante para até 100°C. É também importante que a nave seja construída com materiais fortes o suficiente para aguentar possíveis colisões com outros objetos no espaço.

Todas essas necessidades encarecem o valor da viagem e fazem com que seja necessária a realização de dezenas de testes para que as vidas do piloto e dos tripulantes não corra nenhum risco durante a viagem turística ao espaço.

E o futuro?
Assim como todas as tecnologias, é provável que no futuro o custo do turismo espacial se torne um pouco mais baixo. Entretanto, Melis acredita que isso ainda deve demorar muito.

— Ainda temos um longo caminho de desenvolvimento para chegar a custos razoáveis e riscos aceitáveis, e mesmo assim os preços das passagens seriam altos, até que se consiga desenvolver uma tecnologia capaz de fornecer combustível suficientemente barato e seguro, e termos naves e viagens em uma escala capaz de manter o negócio lucrativo.

Por enquanto, o turismo espacial continua sendo um serviço muito exclusivo, voltado apenas para milionários, além de conter diversos riscos. Pelas informações divulgadas pela Virgin Galactic, foram poucos os compradores que ficaram desconfiados e decidiram cancelar as suas inscrições.

Nos próximos anos, o turismo espacial deve continuar sendo desenvolvido pelos engenheiros e cientistas para se tornar algo mais viável, mas é improvável que os preços das viagens diminuam. Na verdade, não existe nem previsão para quando os preços serão mais acessível. Por isso, para a grande maioria das pessoas, o sonho de ver a Terra do espaço terá que esperar mais um pouco.

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