terça-feira, 27 de agosto de 2013

Editorial: Maratona Marte

(Folha) Termina nesta semana o prazo da fundação holandesa Mars One para inscrição de candidatos a uma viagem só de ida para pousar em Marte no ano 2023. Mais de 165 mil já se inscreveram.

Não há dúvidas de que a colonização do planeta vermelho ocupa espaço nobre no imaginário humano. Mas será um objetivo realista?

Mars One é a menos crível das missões em cogitação. Não se tem notícia de que a organização privada disponha de fundos e capacidade técnica para decolar. Os detalhes nunca foram divulgados.

Nem mesmo a Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, tem planos concretos de pousar em Marte. Em 2010, o presidente Barack Obama fixou o objetivo de levar astronautas até lá na década de 2030, mas só para orbitar o planeta. Para antes disso, em 2025, os americanos preparam uma missão intermediária: abordar um asteroide.

Tais objetivos --sobrevoar Marte ou um mero asteroide qualquer-- não parecem tão inspiradores assim. Nada equiparável, por certo, ao projeto Apollo, que pôs homens a andar na Lua em 1969. Os dois destinos são o que se tornou possível alcançar após o programa Constellation, do republicano George W. Bush, ter ficado sem o módulo que permitiria pousar em Marte --como resultado da tesoura do democrata Obama.

Em matéria de excursões espaciais, de resto, a Nasa se arrisca a perder a primazia para o pioneiro Dennis Tito. O magnata americano foi a primeira pessoa a pagar (estimados US$ 20 milhões) por uma vaga num voo até a Estação Espacial Internacional (ISS), em 2001.

Agora, ele lançou a fundação Inspiration Mars. Sua meta é levar um casal de meia idade para orbitar o planeta vizinho em 2018, numa viagem de 501 dias.

A opção por tripulantes casados parte do pressuposto, talvez questionável, de que marido e mulher estariam menos propensos a enlouquecer trancados por quase um ano e meio numa cápsula do tamanho de um trailer. Também é duvidoso que pessoas mais velhas tenham menos a perder na hipótese de exposição letal a um surto imprevisto de radiação solar.

Como na Mars One, não há detalhes para avaliar a exequibilidade da missão. Tito, porém, é um obstinado. Conseguiu ir à ISS contra a vontade da Nasa. Ele propagandeia que se trata de uma "missão para a América" (os EUA).

Já não se fazem corridas espaciais como antigamente.

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