quarta-feira, 9 de maio de 2012

Marte 500 poderá ser repetido na Estação Espacial Internacional

Projeto russo durou 520 dias e foi um sucesso


(Diário da Rússia) O projeto Marte-500, realizado entre os anos de 2010 e 2011, que simulou uma expedição ao planeta vermelho, poderá ser repetido na Estação Espacial Internacional (ISS). Esta é a tese que vem dominando a comunidade científica russa por considerar válida repetir a experiência, desta vez, na órbita da Terra. Para os cientistas, a bordo da ISS, os voluntários que participarão desta nova experiência terão, praticamente, a mesma sensação de um voo real para Marte.

A experiência, que durou 520 dias e terminou em novembro do ano passado, foi realizada primeiramente no Instituto de Problemas Biomédicos de Moscou, que funciona junto à Academia de Ciências da Rússia. A equipe de seis voluntários, formada por três russos (dois médicos e um engenheiro), um astronauta chinês que está sendo treinado na Rússia e dois engenheiros da Agência Espacial Europeia (ESA), um francês e o outro italiano, passou o período em completo isolamento do mundo exterior num módulo fixo que se parece com uma nave espacial. Os voluntários foram confinados em contêineres que reproduziam as condições ambientais de uma suposta nave tripulada para Marte, o pouso no planeta vermelho, a permanência por alguns dias em Marte e o retorno a Terra.

Os especialistas russos que acompanharam a experiência ficaram muito satisfeitos com os resultados e disseram que os dados coletados servirão de base para o planejamento de futuras missões interplanetárias tripuladas. Durante todo o tempo que durou a simulação da viagem de ida e volta a Marte, os voluntários foram monitorados por uma equipe multidisciplinar formada por médicos de várias especialidades, inclusive psiquiatras, psicólogos, biólogos, químicos, engenheiros, físicos, astrônomos e astrofísicos, entre outros profissionais. Nenhum dos voluntários desistiu de participar da experiência apesar dos 520 dias de confinamento.

No entanto, os cientistas necessitam de ainda mais realismo nestas experiências para que o planejamento de uma missão tripulada a Marte seja 100% seguro, com a previsão de todas as hipóteses que poderão acontecer durante a viagem de ida e volta ao planeta vermelha e o período de permanência dos tripulantes no planeta.

O diretor do Projeto Marte-500, Boris Morukov, alerta para a necessidade de comprovação das diversas hipóteses. “Durante uma expedição real a Marte, os tripulantes enfrentarão os fatores devastadores do espaço, que não existem na Terra: radiação cósmica e imponderabilidade. A radiação danifica o DNA celular, o cristalino dos nossos olhos, a retina, e o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso, que pode levar a erros fatais na gestão da nave espacial. O fator de microgravidade é muito importante na avaliação da perda de cálcio e densidade óssea reduzida nos astronautas. Por isso, entendemos que a realização desta experiência na Estação Espacial Internacional produziria resultados bem mais confiáveis.”

Para o diretor do Projeto Marte-500, a palavra final sobre a realização da segunda experiência do gênero, a bordo da Estação Espacial Internacional, está nas mãos da Agência Cósmica Russa (Roskosmos) gestora da nave e responsável pela preparação dos cosmonautas. "As propostas foram formuladas e direcionadas para a Roskosmos. Por isso, deve haver uma decisão firme e resoluta e ser criado um programa específico, incluindo o treinamento dos tripulantes.

Estamos dispostos a trabalhar e a fazer tudo sozinhos, mas, se houver cooperação internacional, será melhor ainda. O ideal seria repetir a experiência no novo módulo russo, que nos próximos anos irá até a Estação Espacial Internacional, preparando-o desde já para este objetivo. Mas, mesmo assim, não será possível evitar dificuldades como, por exemplo, as experiências com as telecomunicações. Precisamos definir como teremos acesso efetivo às comunicações com os tripulantes e eles com a base terrestre de controle. Cada tripulante da missão Marte-500 terá uma atribuição específica e, por este motivo, a comunicação com a Terra precisará ser diferenciada com cada voluntário.”

Em Berlim, na Alemanha, onde está participando de um simpósio internacional dos parceiros da Rússia no projeto da Estação Espacial Internacional, o diretor dos Programas de Voos Tripulados da Roskosmos, Alexei Krasnov, afirmou que meio século de pesquisas da era espacial não exauriu todas as possibilidades para investigações científicas na órbita terrestre, razão pela qual é sempre necessário aprofundar e melhorar estas experiências. Ele disse ainda que a Estação Espacial Internacional exige um grande trabalho de infraestrutura e o seu aperfeiçoamento constante é o primeiro passo para a realização de voos espaciais tripulados interplanetários, a partir da próxima década, tendo a Estação como base e ponto de partida.

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