País é o único capaz de levar homens ao espaço, mas tecnologia é antiquada e mão de obra não tem sido renovada
(Estadão) Os habitantes da Cordilheira de Altai, na Sibéria, são considerados resistentes. No fim do verão, muitos sobrevivem da coleta de frutos e sementes. Também estão acostumados aos pedaços de foguetes que despencam após o lançamento de voos espaciais.
Quando uma grande bola de fogo foi vista no fim de agosto, os moradores da vila de Karakoksha não se alarmaram. Mas eles tinham testemunhado uma enorme derrota. Após apresentar defeitos, um foguete Soyuz despencou com um cargueiro não tripulado chamado Progress.
O acidente destruiu a confiança do público na cada vez mais antiga tecnologia espacial russa, crucial para o futuro dos voos espaciais tripulados. O acidente não poderia ter ocorrido em momento pior. Em julho, a Nasa aposentou sua frota de ônibus espaciais. Desde então, a Rússia tem sido o único país capaz de levar humanos ao espaço com regularidade. A operação permanente da Estação Espacial Internacional (ISS) é impossível sem os Soyuz, que entraram em atividade na sua forma atual em 1973.
Os problemas com os Soyuz lançam uma sombra sobre os planos da Rússia. O Kremlin sonha há anos com uma missão tripulada a Marte. Para tal, cientistas trabalham em um novo tipo de propulsão nuclear. Os especialistas querem começar a construir uma base permanente na Lua em 2035, com o objetivo de extrair recursos naturais de lá.
Vários acidentes nos últimos meses abalaram a autoconfiança do país. A queda do Soyuz é o quarto fracasso numa missão de prestígio. Um foguete Proton-M caiu porque "algum idiota" tinha enchido o tanque além do limite, segundo uma fonte na agência espacial russa (Roscosmos). O software de controle de um foguete Rokol apresentou defeito. Dias antes do acidente do Soyuz, Moscou tinha pediu o auxílio americano na busca pelo satélite de comunicações Express AM4, perdido após entrar em órbita.
A indústria espacial russa paga o preço de reformas fracassadas feitas nos anos 90. Na época, uma geração de jovens especialistas foi trabalhar no exterior ou mudou de profissão. E o equipamento nas instalações que fabricam os foguetes está ultrapassado.
Na fábrica da Energomash, que constrói componentes, os sinais do declínio e do progresso ficam lado a lado. A média de idade entre os homens e mulheres de macacão azul que montam os requisitados motores RD-180 é superior a 50 anos. Um engenheiro da Energomash recebe o equivalente a US$ 1 mil por mês. Em Moscou, "somente aposentados" aceitaram trabalhar por tão pouco, caçoa o especialista em foguetes Viktor Myasnikov.
A história se repete em todo o país: a média de idade dos administradores da indústria é de 50 anos. Em se tratando de funcionários de equipes científicas, a média é de 63.
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