Eles reclamam do abandono por parte do DCTA e do Ministério da Defesa
(Vnews / Brazilian Space) Abandono - Essa é a palavra que exprime o sentimento das famílias que tiveram parentes mortos na explosão do Veículo Lançador de Satélites (VLS) na Base de Alcântara no Maranhão, há oito anos. Vinte e um técnicos e engenheiros do DCTA (antigo CTA) de São José dos Campos morreram na tragédia acidente.
Foi o maior acidente registrado no setor aeroespacial brasileiro. Em menos de dez minutos, quarenta toneladas de combustível sólido que deveriam queimar no caminho ao espaço foram consumidos ali mesmo. O fogo destruiu o VLS e a base de lançamento.
Investigação
A comissão montada para investigar o acidente levou cinco meses para concluir que a causa exata nunca será descoberta. Ficou comprovado que uma corrente elétrica acionou um dos motores do foguete antes da hora. Mas, o que provocou essa corrente vai ficar só na hipótese. O mais provável é que teria sido uma descarga eletrostática. O levantamento também apontou falhas graves de segurança:
- os técnicos que trabalhavam no VLS não usavam pulseiras eletro-estáticas, um equipamento que evita que a energia do corpo humano em contato com fios se transforme em corrente elétrica;
- as normas internacionais determinam que no máximo cinco pessoas trabalhem ao mesmo tempo na base de lançamento. Na hora do acidente havia vinte e três;
- as testemunhas ouvidas pela comissão disseram que os técnicos não sabiam que os motores de arranque já estavam instalados - a instalação ocorreu um dia antes do previsto. Eles ignoravam, portanto, o grau de perigo.
Abandono
Desde que ocorreu o acidente, as vinte e uma famílias que foram vítimas tiveram a promessa do então presidente Lula de que haveria apoio total às viúvas e filhos. Os filhos – menores de 14 anos – teriam direito a convênio médico pelo hospital do CTA e apoio psicológico. Essa condição seria reavaliada em um prazo de 5 anos, porém, de acordo com as famílias, ninguém as procurou nesse período e algumas perderam o direito. “A gente sente que eles querem que a gente esqueça. Tem famílias passando dificuldade, pois não tem condição de pagar um convênio. A gente só consegue ir superando na conversa um com os outros, trocando experiências, pois apoio por parte do CTA, deixamos de ter”, reclama Dóris Cesarini, viúva do engenheiro Antônio Sérgio Cesarini.
O presidente da Associação das Famílias, José Oliveira, faz a mesma reclamação e ainda reforça que por parte do Ministério da Defesa, o apoio também deixou de existir. “Desde que o ex-ministro Nelson Jobim assumiu, a gente foi esquecido e não consegue tratar desse assunto com mais ninguém dentro do governo. Da mesma forma quando houve a mudança aqui em São José dos Campos (de CTA para DCTA). Perdemos o nosso relacionamento. É uma sensação de total abandono”, disse.
Conversas com o Governo
À época, o governo liberou uma verba indenizatória de R$ 100 mil para cada família, que ainda recebem a pensão no valor dos salários das vítimas. Porém, logo depois que receberam, 18 delas entraram com ações pedindo a revisão desse valor. “Nós conseguimos um parecer favorável em São José dos Campos, mas como é padrão, a União recorreu e o processo agora tramita no Tribunal Federal em São Paulo. Estamos tentando uma audiência com a presidente Dilma para tentar um acordo e um processo não ficar esperando por mais 10 anos na segunda instância”, explicou Oliveira.
Ainda de acordo com o presidente da Associação, um pedido de audiência com a presidente já foi protocolado em Brasilía, e, no próximo mês, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, deve vir a São José dos Campos, onde terá uma reunião com as famílias para ouvir as principais reivindicações e encaminhá-las ao governo. “Vamos sentar e conversar para que ela leve nossos apelos para o governo. Precisamos saber quem ficará responsável em tratar desse assunto conosco. Ou o Ministério da Defesa ou o Ministério de Ciência e Tecnologia”.
Homenagem
Nesta segunda-feira (22), os parentes das vítimas fizeram uma homenagem no Memorial Aeroespacial Brasileiro (MAB), em São José dos Campos. Exatamente às 13h26 (horário do acidente) houve queima de fogos.
Reconstrução do VLS
Após o acidente, o projeto ficou paralisado por um ano e em 2004 foi retomado. Atualmente, o projeto VLS-1 encontra-se na fase de implementação de modificações decorrentes da revisão.
O novo projeto prevê a construção de um “Mockup” de Integração e de Ensaios das Redes Elétricas (MIR), dois lançamentos de protótipos (VLS-1 XVT01, com apenas a parte baixa ativa e VLS-1 XVT-02, que satelizará uma instrumentação), além da reconstrução da Torre Móvel de Integração e o lançamento do VLS-1 V04, que colocará em órbita um satélite a ser designado.
O VNews entrou em contato com o Ministério da Defesa e o DCTA, durante toda tarde, mas até o momento não obteve resposta.
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