Fusão com Agência Espacial Brasileira pode não sair, diz Gilberto Câmara. Ele afirma que é grave falta de mão de obra no instituto espacial.
(G1) O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espciais (Inpe), Gilberto Câmara, disse em entrevista ao G1 que o plano do Ministério da Ciência e Tecnologia de unificar o instituto e a Agência Espacial Brasileira (AEB) pode não dar certo porque o governo teria outras prioridades. "Será que neste momento vale a pena investir no programa espacial? Reconheço a necessidade, mas a decisão depende do governo, que tem outras prioridades”, afirma Câmara.
Segundo o diretor, a crise dos Estados Unidos, que aprovou nesta terça-feira (2) um pacote de medidas para evitar um calote de sua dívida, e as ações do governo brasileiro para conter a inflação podem influenciar nesta decisão.
“Se (a fusão) aumentar a quantidade de recursos para o Inpe, seria um salto para o desenvolvimento dos nossos projetos. Entretanto, isso precisa ser analisado porque existem muitas incertezas quanto ao cenário econômico internacional que estão deixando o governo mais cuidadoso em relação ao aumento de investimentos públicos”, disse.
Em julho, o presidente da AEB, Marco Antônio Raupp, defendeu a fusão e informou que uma comissão interministerial tem debatido o assunto constantemente. Segundo Raupp, a articulação seria para resolver detalhes como as estruturas totalmente separadas dos órgãos (um fica em Brasília e o outro no interior de São Paulo), também para definir como ocorrerá a incorporação dos servidores atuais e a contratação de mil novos funcionários públicos.
Recursos Humanos
De acordo com Gilberto Câmara, a proposta de fusão teria que resolver a questão do orçamento (que saltaria dos atuais R$ 316 milhões/ano para R$ 1 bilhão/ano até 2020) e também dos recursos humanos.
“Nesses últimos anos, por várias decisões de governo, não houve investimentos nos recursos humanos. Isto é preocupante, porque os trabalhos podem ser comprometidos pela falta de gente para reposição”, diz o diretor do Inpe. O instituto completa 50 anos esta semana.
De acordo com o Plano Diretor da instituição, elaborado para o período de 2011 a 2015, dos atuais 1.070 servidores (a menor quantidade em 20 anos), 770 têm mais de duas décadas de prestação de serviço e poderão entrar em fase de aposentadoria nos próximos três anos, principalmente trabalhadores das áreas de engenharia e ciência espacial. Ainda segundo o documento, seria necessária a abertura de 400 vagas.
Câmara comentou ainda que, caso a unificação ocorra, o nome Inpe terá que ser mantido e não haverá grupos da instituição que serão integrados a áreas como a fabricação de foguetes. “Isso pertence aos militares, nós nunca fizemos e não temos recursos humanos para tal. Planejar sem conhecer é um perigo na área tecnológica”, comenta Gilberto Câmara.
Satélites
Sobre o programa brasileiro de satélites, que tem sofrido atrasos constantes, Câmara afirma que o problema foi na falta de conhecimento da indústria para fabricar componentes específicos e que não passaram pelo crivo dos técnicos do Inpe.
“Foi um atraso de três anos que tem a ver com a falta de conhecimento da indústria na fabricação dos componentes e também devido ao padrão de qualidade do instituto, que é muito rigoroso. Isto já foi superado”, disse Câmara.
Desde 2010 o Inpe não tem satélite próprio de observação da Terra. O último, o Cbers-2B (terceiro resultante de parceria com a China) foi desligado em 2010 e, desde então, o Brasil utiliza imagens geradas por equipamentos de outros países. “A previsão de lançamento do Cbers-3 é para 2012”, disse.
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