O experimento da UFRN, que teve um custo de R$ 250 mil, simulava condições de estresse nas plantas em microgravidade. A partir desses testes, pode-se agora preparar melhor esse tipo de planta para as condições vivenciadas no Brasil.
Quem explica é a coordenadora do projeto aprovado em 2007, Kátia Scortecci, professora do Departamento de Biologia Celular e Genética da UFRN. “Podemos identificar os mensageiros da condição de estresse. Isso poderia ser similar ao visto em plantações normais e, assim, teríamos condições de fazer a cana-de-açúcar resistente a mudanças climáticas”.
Esse experimento é pioneiro no mundo. No último dia 12 de dezembro, às 12h35, o foguete VSB-30 foi lançado da base de Alcântara no Maranhão. No mesmo dia, às 15h, helicópteros patrulha recuperaram a carga a 95 quilômetros da costa maranhense e agora ela é armazenada a -80ºC aqui em Natal.
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“Foi a primeira vez que conseguimos recuperar a carga desse foguete, das duas outras vezes os experimentos das outras pessoas haviam se perdido”, contou o professora Kátia.
A análise da experiência começa em fevereiro e em junho os primeiros resultados devem aparecer e poderão ser aplicados em uma vasta área onde existe este tipo de plantação no Brasil.
De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, em 2008, já existiam 4,5 milhões de hectares dedicados à cana-de-açúcar no país. No mesmo ano, o ministro Carlos Minc já autorizava a expansão em 7 milhões de hectares.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a região Sudeste concentra mais de 80% da produção de cana no país. O Rio Grande do Norte tem aumentado a sua produtividade em 10% ao ano e já passa das 3 mil toneladas produzidas anualmente.
Experimento é Apenas a "Ponta do Iceberg"
O presidente do Instituto Nacional de Ciências do Espaço (INESPAÇO), o professor da UFRN José Renan de Medeiros, afirmou que o experimento com a cana-de-açúcar é apenas a ponta do iceberg das demais experiências que estão por vir. “Não vamos parar por aqui. No campo científico, quando etapas são concluídas com sucesso, muitas portas se abrem”, disse Renan.
Ele considerou o projeto da professora Kátia ambicioso e está otimista quanto aos estudos que serão iniciados em fevereiro. “Resultados interessantes vêm por aí”.
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Os próximos projetos são relativos ao micro-organismo que ataca o cacau e a bactéria “genuinamente brasileira”. “Já está em andamento o processo para mandarmos ao espaço, o micro-organismo que é uma praga nas plantações de cacau, assim como um estudo mais aprofundado sobre o primeiro genoma brasileiro, a cromo bactérica violácia”.
De acordo com o professor, o procedimento seria semelhante ao aplicado nas plantas de cana. “Veríamos como reagiriam esse organismos e o que poderíamos aprender com isso, para utilizar posteriormente. Na Bahia, onde a plantação de cacau sofre bastante com os ataques, um estudo e os resultados práticos seria de grande ajuda”, contou o professor.
Para ele, projetos ainda mais ambiciosos serão executados no futuro. “Claro que não é do dia para noite, mas, inspirado no sucesso que estamos tendo, pretendemos chegar até a estação espacial internacional”, encerrou Renan.
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