quinta-feira, 22 de abril de 2010

Congressistas se opõem ao plano de Obama de reduzir missões da Nasa

(The New York Times / Folha) Durante sua viagem ao Centro Espacial Kennedy, o presidente dos EUA Barack Obama foi confrontado com uma estranha realidade política: quando se trata de exploração espacial, algumas vezes até mesmo os republicanos podem ser ávidos defensores da opção pública.

Eles se juntaram a colegas democratas no Congresso para se opor ao plano de Obama de reduzir as missões da Nasa, e para estimular foguetes de empresas privadas a transportar carga e astronautas ao espaço. Os críticos de Obama o acusam de abandonar a gloriosa tradição pioneira da Nasa e talvez, se seus eleitores têm empregos na Nasa, seja possível enxergar algo de pioneiro numa agência cuja bandeira adentra algumas centenas de milhas o espaço.

Porém, quatro décadas depois do pouso na Lua, por que a Nasa não está se aventurando em algum local mais exótico? Os dias de glória das missões lunares Apolo só foram possíveis graças à corrida contra a União Soviética, e Obama poderia reviver esse espírito iniciando uma nova corrida. Mas não se ele se entregar às exigências de manter a Nasa vacilando na atual forma.

Custo do transporte espacial
O principal problema da Nasa não é falta de dinheiro. Seu orçamento atual tem aproximadamente o mesmo tamanho, quando ajustado pela inflação, da média nos anos 1960 e início da década seguinte. Contudo, a exploração do espaço se tornou tão cara que esse nível de financiamento não pagará nem mesmo por um retorno à Lua num momento próximo o que fez com que a Casa Branca cancelasse a missão lunar do governo Bush.

Normalmente, quando um pioneiro faz a primeira viagem a qualquer lugar, o custo diminui à medida que outros vão atrás e a tecnologia é aprimorada. É por isso que tantos colonos puderam seguir Colombo até o Novo Mundo, e que as massas de hoje conseguem arcar com voos à Europa no caminho de Lindbergh. Os custos reais de frete de remessas por ferrovias e aviões decaíram em uma ordem de magnitude, desde que locomotivas e aviões foram inventados.

No transporte espacial, entretanto, muitos custos na verdade aumentaram desde a época da Apolo. A Nasa estima que cada missão de ônibus espacial com sete pessoas custe, hoje, cerca de US$ 65 milhões por astronauta, e especialistas externos dizem que o custo real, quando você agrega todas as despesas relacionadas, chega ao dobro ou triplo desse número. Mesmo uma viagem lotada à estação espacial Soyuz, do governo russo, custará aos Estados Unidos mais de US$ 50 milhões por astronauta.

Elon Musk prometeu fazer o trabalho por apenas US$ 20 milhões, construindo seu próprio foguete que está sendo preparado para um lançamento teste no próximo mês. Sua empresa, SpaceX, está economizando através de inovações como montar o foguete horizontalmente, dentro de um hangar pré-fabricado aqui em Cabo Canaveral, com isso evitando os custos das torres e armações customizadas usadas pela Nasa para montar seus foguetes na vertical.

A mais importante inovação no programa espacial, segundo Musk, seria fugir do velho modelo "custo extra" através do qual os empreiteiros da Nasa têm um lucro assegurado acima de quaisquer custos gerados.

"A abordagem de custo extra encoraja empresas aeroespaciais a encontrar a maneira mais cara de fazer algo, e arrastá-la pelo maior tempo possível", disse Musk, o empreendedor que cofundou o PayPal. "Contratos futuros deveriam ser entregues para atingir metas baseadas em revisões objetivas de projetos e término real de construção. Se uma empresa atinge a meta, ela é paga. Se não atinge, não recebe".

Plano de Obama
Sob o novo plano de Obama, haveria um estímulo adicional para a SpaceX e outras empresas privadas. As empresas aeroespaciais tradicionais permanecem alertas em relação aos planos, conforme meu colega Ken Chang relatou na última segunda-feira, mas há outras empresas iniciantes, além da SpaceX, trabalhando em projetos para colocar humanos no espaço e elas seriam concorrentes em potencial.

Enquanto as empresas privadas colocariam humanos e carga em órbita, a Nasa seria redirecionada a pesquisas fundamentais e desenvolvimento de tecnologias para viagens muito além da Terra, segundo o plano de Obama. Essa pesquisa e desenvolvimento, conforme autoridades da Casa Branca são rápidos em apontar na preparação para sua viagem à Flórida, geraria empregos em alguns dos distritos congressionais afetados pelo fechamento dos programas lunares e de ônibus espaciais.

Em teoria, faria sentido para a Nasa realizar a pesquisa avançada de alto risco que poderia render avanços para uma viagem a Marte. Porém, quanto progresso a Nasa realmente faria?

Uma forma de estimular a inovação seria converter algumas das divisões da Nasa em versões do Jet Propulsion Laboratory, que enviou com sucesso sondas robóticas pelo sistema solar. O laboratório é financiado pela Nasa e operado pela CalTech, e por isso tem maior liberdade de inovar fora das restrições políticas e do Serviço Civil. Em 2004, uma comissão presidencial recomendou que a Nasa convertesse parte de seus centros de pesquisa a esse modelo acadêmico, mas a burocracia da agência mostrou pouco interesse em abrir mão do controle.

Outra maneira de empurrar a Nasa seria estabelecer objetivos específicos. Robert Zubrin, presidente da Mars Society, argumenta que a Nasa só é eficaz quando recebe um destino definitivo e uma agenda apertada o Modo Apolo, como ele o chama, que ainda é usado com sucesso em missões robóticas.

Mas desde a ida à Lua, segundo ele, o programa espacial humano está travado no Modo Ônibus Espacial, onde a agência desenvolve tecnologias para agradar eleitorados burocráticos e políticos. Em vez de buscar a melhor nave para atingir um objetivo, o programa buscava um objetivo (como a estação espacial) para justificar a nave. Para Zubrin, o novo plano de Obama se parece com uma continuação do Modo Ônibus Espacial.

"O plano propõe gastar US$ 100 bilhões em voos espaciais tripulados ao longo dos próximos dez anos, de forma a realizar nada", disse ele. "Se vamos ter um programa de voos espaciais tripulados da Nasa, ele deve receber um objetivo".

Objetivo: Marte?
Zubrin gostaria de ver a Nasa comprometida a um objetivo como construir uma nave para alcançar um asteroide até 2016 (um ano que cairia num segundo mandato de Obama), como preparação para uma viagem a Marte. Esse não é um objetivo ruim, embora eu não consiga enxergar como a agência poderia realizar a viagem em si.

O que ela poderia fazer é inspecionar uma concorrência entre empresas como a SpaceX, ou quaisquer grupos sem fins lucrativos que quisessem participar. Ela poderia oferecer uma série de prêmios, como o bônus em dinheiro que Lindbergh ganhou por atravessar o Atlântico. Ou poderia haver contratos dados a concorrentes, que seriam baseados estritamente em seu desempenho, e não em custos.

E se Obama, num estilo Kennedy, começasse uma corrida para Marte onde a Nasa definiria marcos ao longo do caminho e recompensasse os concorrentes somente quando eles fossem ultrapassados?

"Seria ótimo definir um objetivo em Marte", afirmou Musk. "Pessoalmente, acho que isso poderia ser feito em 10 anos". Talvez ele esteja sendo excessivamente otimista, mas qual o problema em deixar que ele e qualquer outra pessoa busque essa meta?

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