quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Indústria espacial será de PMEs, diz Singularity University


(Exame) Emeline Paat-Dahlstrom é vice-presidente da Singularity University (SU), instituição americana com meta de acelerar o impacto e o desenvolvimento da tecnologia.

Com experiência na área espacial, Emeline conversou com INFO sobre o futuro desta indústria e sobre como a cultura empreendedora do Vale do Silício não pode ser facilmente copiada e exportada para outros países.

Na conversa, a executiva também traz uma boa notícia aos brasileiros: o país deverá sediar uma conferência da SU em 2015.

Confira a entrevista:

- Você é VP da Singularity University. Qual exatamente é o seu papel dentro da organização?
Oficialmente, eu tenho dois papeis. Um deles é que eu sou a vice-presidente executiva de operações, o que significa que eu supervisiono toda a produção e operações de todos os nossos programas.

Nós temos o programa de 10 semanas, o programa executivo, encontros, conferências. Mas meu outro papel é o de Chief Impact Officer.

Como executiva, a função é garantir que missão da organização está propagada em todos os nosso programas. O que significa garantir a integração entre tecnologia e desafios globais em todos os nossos cursos.

- Quais são os programas da Singularity e como eles dialogam com a missão da instituição?
A missão da SU é basicamente educar, empoderar e inspirar líderes, empreendedores e inovadores sociais. Ensinando-os sobre tecnologias exponenciais, ou seja, tecnologias que estão muito rapidamente se desenvolvendo.

Por exemplo, uma pessoa ou uma companhia que pensar linearmente sobre onde estará no futuro, então estará fora do processo. O mundo se move exponencialmente nos dias de hoje.

Ensinamos inteligência artificial, robótica, nanotecnologia, biotecnologia. Mas a outra parte da SU não é só educação.

As pessoas que frequentam os programas também fazem alguma coisa. A questão é como usar a tecnologia para resolver os grandes problemas do mundo, como educação, energia, saúde, entre outras.

Como faze isso? Nós as ensinamos. Por exemplo, verão temos um programa de 10 semanas com 80 alunos de todos os lugares do mundo.

No final desse programa, eles se juntam em times para trabalhar em um projeto ou ideia que poderá impactar positivamente um bilhão de pessoas em dez anos.

Alguns desses projetos se tornam startups. Essa segunda parte de inovação é representada pela SU Labs.

- Então funciona também como uma incubadora?
Sim. Esta é uma parte. Há entre 20 e 30 empresas incubadas aqui. Novamente, a requisição para participar é usar tecnologia de escala para resolver os grandes desafios globais.

Nós também membros corporativos no SU Labs. Há várias grandes organizações que não conseguem inovar, então elas precisam de um lugar para pensar fora da caixa.

O que acontece é que temos escritórios aqui para eles. Eles podem trazer seu time de inovação para interagir com as startups.

Nosso começamos isto este ano e já tivemos a participação da Coca-Cola, Hersheys, a loja de móveis Lowes e o Unicef. Há ainda uma terceira parte que é criar uma comunidade global, interagindo com empresas, startups, governos e o terceiro setor e academia.

Tudo para criar um ecossistema de inovação com as pessoas que têm potencial para solucionar os problemas da humanidade.

- Você trabalhou anteriormente em companhias de turismo espacial e agora está na Singularity bem no Hangar One [tradicional centro espacial americano que serviu como base da Nasa]. Como funciona a relação entre a SU e exploração espacial?
Minha experiência é em tecnologia espacial e física. Eu trabalhei duas décadas na propagação das viagens espaciais. Foi assim que eu conheci Peter Diamandis, cofundador da SU.

Ele olhava para o espaço como o futuro da humanidade e, por conta disso, também fundou uma outra universidade 25 anos atrás chamadas International Space University (ISU), algo muito parecido com a SU, mas focada em espaço.

Eu estudei lá e depois passei a trabalhar na universidade.

Na sequência, trabalhei em uma série de startups de Peter, como a Space Adventures que foi a primeira a fazer um acordo com a Rússia para levar pessoas ao espaço.

A nossa relação é com essa tecnologia que se desenvolve rapidamente e reduz o preço dos equipamentos antes levados ao espaço. A Planet Labs, por exemplo, foi fundada por ex-membros da SU e da ISU.

Eles surgiram há dois anos e já são os recordistas em satélites lançados com os CubeSats, que medem apenas 10 centímetros.

Outra companhia que surgiu a partir da gente é a Made in Space. Eles fizeram o nosso programa de dez semanas e tinham a ideia de uma impressora 3D que funcionasse no espaço.

Isso é importante, pois o astronauta não precisa esperar chegar da terra a peça para um futuro conserto da estação, mas imprimir a peça diretamente no espaço. Trabalharam por três anos nisso e lançaram a impressora na estação faz três semanas.

Novamente, são nossos estudantes. Há várias startups aqui que poderão atuar em campos que antes eram apenas de governos ou de grandes companhias, pois tudo está sendo digitalizado, desmonetizado e democratizado.

- Qual é a sua opinião sobre a Virgin Galactic e a SpaceX?
Primeiramente, eu gostaria de falar da SpaceX. Acredito que Elon Musk é a quintessência do empreendedor. Ele não tinha nenhuma experiência espacial ou em energia.

Agora, ele é a única pessoa, além dos russos, de mandar equipamentos e pessoas ao espaço. O que é totalmente incrível.

A mesma coisa com a Tesla, companhia eleita como dona de um dos carros mais seguros do mercado. E ele não tinha nenhuma experiência nessa área.

Isso é similar ao Richard Branson, que começou com a gravadora e depois com as linhas aéreas. Isso mostra o espírito empreendedor. São pessoas que não têm medo de pensar grande e, ao mesmo tempo, sabem que a tecnologia está desenvolvendo rapidamente.

Voltando à pergunta, eu acredito que o futuro da indústria espacial será de pequenas empresas e organizações que poderão modificar e usar essas tecnologias para problemas fora do espaço, como proporção, escala e materiais para aeronaves.

- Que tipos de estudantes a SU procura?
Eu imagino que sua próxima pergunta será sobre como os brasileiros podem participar. Eu quero dizer que os brasileiros figuram entre os principais alunos da SU.

É muito parecido com a missão da organização. Precisa ter um background em tecnologia e ter um espírito empreendedor.

Alguém que fundou uma companhia, que começou algo e falhou. E claro, que tenha usado a tecnologia para resolver problemas globais. Como disse, temos programas diversos e temos as conferências.

Fizemos uma recentemente na Hungria e sei que estamos planejando uma no Brasil.

- Quando será?
Será no próximo ano. Não sei exatamente a data, mas sei que Nathalie Trutmann, a nossa embaixadora no Brasil, está colocando todos os esforços para que isso aconteça.

- Você virá para o seminário Social Good Brasil no próximo mês, em Santa Catarina. Quais temas você irá abordar na conferência?
Eu vou participar do painel de empreendedorismo tecnológico. Vou falar das diferentes maneiras de aceleradoras ao redor do mundo. Dependendo da onde você está, a aceleração precisa se relacionar com a sua comunidade local.

Por exemplo, eu estou aqui no Vale do Silício. Aqui há uma certa cultura que funciona.

As pessoas acreditam que a cultura daqui pode ser transportada, pois querem ser “o Vale do Silício de não sei onde”. Só que não é tão simples assim.

Você não pode transportar a cultura e experiências de um lugar. É preciso entender as necessidades, a força e a cultura de cada comunidade.

Por conta disso, o empreendedorismo em outras partes do mundo não está acontecendo positivamente. Há ainda uma curva de aprendizado em outras áreas.

Eu estou muito entusiasmada sobre como será a conversa, pois também quero saber como está a situação no Brasil e na América Latina e como podemos comparar ao que fazemos aqui.

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