quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Estudo mostra que quanto menos gravidade, maior a possibilidade de cáries

Segundo dentista brasileira que pesquisou a questão, placa com bactérias é duas vezes e meia maior nos astronautas



(O Globo) Os primeiros astronautas a embarcarem numa missão com destino a Marte enfrentarão problemas que nem imaginam, mas pelo menos um deles a dentista e diretora do curso de Farmacologia da faculdade de Odontologia da New York University (NYU) Simone Duarte, de 38 anos, já previu: cáries. A brasileira conduz uma pesquisa que revelou que a massa do biofilme (a comunidade de micro-organismos que vive nos dentes) formada na microgravidade é duas vezes e meia maior do que a formada na terra. O biofilme oral (também conhecido como placa dental) pode se tornar tão resistente que possivelmente nem a escovação evitaria a formação da temida cárie nos astronautas.

— Usamos um equipamento de simulação de microgravidade para formar um biofilme com bactérias que causam cárie (Streptococcus mutans) — explica Simone. — Utilizei essas bactérias principalmente porque elas formam um biofilme bem rico quando na presença de açúcares, que na natureza ficam aderidos aos dentes, aumentando, assim, o risco do problema.

TRATAMENTO SERIA QUÍMICO
O interesse no assunto surgiu ainda na graduação na Unicamp, quando Simone fazia iniciação científica. Nessa época, ela já buscava conhecer melhor a placa dental para tentar tratá-la adequadamente. Assim, realizou estudos com o própolis e o suco de cranberry, entre outros, para possivelmente chegar a um agente de prevenção.

Com os testes na microgravidade simulada, Simone pretende encontrar alguma outra forma de tratamento que seja químico, já que o mecânico, a escovação, não seria suficiente. A professora levou seu trabalho para ser apresentado na Conferência de Desenvolvimento e Pesquisa na Estação Espacial Internacional.

— Eu era a única dentista no congresso. Todos viravam para mim e perguntavam: “Você é que é a dentista?” — conta.

Dentre as cerca de 200 pessoas no evento, o diálogo com o astronauta americano Donald Pettit foi o que mais marcou Simone.

— Ele me contou que, no treinamento para as missões, eles são instruídos a remover o dente quando sentem dor — disse. — Muito por conta disso, os americanos costumam fazer uma seleção rigorosa dos candidatos a astronauta quanto à saúde bucal.

DOENÇAS INFECCIOSAS, NOVO ALVO
Apesar de sua especialidade ser o biofilme oral, a dentista está investigando também algumas abordagens para tratar de doenças infecciosas associadas a outros biofilmes que se formam em períodos prolongados no espaço, podendo prevenir até a contaminação de água na estação espacial.

— A boca é muito boa como parâmetro, pois conhecemos muito sobre ela — afirmou.
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