sexta-feira, 14 de março de 2014

Antecipar Lançamento do CBERS-4 é Um Erro, Porque Torna Inevitável a Integração na China


(SindCT / Brazilian Space) Assim que se confirmou a falha no lançamento do satélite CBERS-3 devido a um mau funcionamento do último estágio do foguete chinês Longa Marcha 4B em dezembro de 2013, começaram a surgir propostas no sentido de se antecipar a integração (montagem) e lançamento do satélite CBERS-4, como forma de se amenizar o prejuízo causado pela perda do CBERS-3.

Originalmente o CBERS-4 estava previsto para ser lançado no final de 2015, decisão esta que já havia sido ratificada pela Comissão Sino-Brasileira de Alto-Nível (COSBAN), que coordena as atividades no âmbito da cooperação espacial entre Brasil e China, na sua última reunião ocorrida em novembro de 2013, portanto, poucos dias antes da tentativa frustrada de lançamento do CBERS-3 (vide matéria publicada no Jornal do SindCT 27, http://goo.gl/BpmvBt).

Aparentemente, a ideia de se antecipar o lançamento do CBERS-4 partiu do próprio ministro Raupp (MCTI), que divulgou declarações à imprensa neste sentido enquanto ainda se encontrava na China, acompanhando o lançamento do CBERS-3. O argumento central desta proposta baseia-se no fato de que o Brasil já se encontra há vários anos sem a cobertura de imagens de seu território, desde que o satélite CBERS-2B deixou de operar em 2009.

Assim, de acordo com o ministro, caso o cronograma do CBERS-4 fosse mantido, o país ainda teria de esperar mais dois anos até que a geração das imagens fosse retomada. Uma vez tomada a decisão de se antecipar em um ano o lançamento do CBERS-4, a consequência natural seria dar início imediatamente à sua integração na China, por várias razões, dentre as quais o fato de boa parte da estrutura do satélite já se encontrar naquele país, e o fato de a China possuir uma quantidade muito maior de técnicos bem treinados que poderiam ser alocados nestas atividades de integração.

Se a integração fosse feita no Brasil, estima- se que seriam gastos cerca de três meses só com atividades de importação destas partes para o Brasil (e posterior exportação para a China na época do lançamento). Além disso, é sabido que o INPE enfrenta sérios problemas relacionados à escassez de recursos humanos, fato que se verifica também no Laboratório de Integração e Testes (LIT-INPE), onde os satélites são montados e testados.

Alto Preço
Portanto, o questionamento que se deve fazer em relação ao CBERS-4 é se a antecipação de seu lançamento é ou não pertinente.

Neste aspecto, a decisão de vir a integrá-lo na China ou no Brasil é uma mera decorrência desta decisão preliminar. Rigorosamente, não há argumentos convincentes que justifiquem a antecipação do lançamento do CBERS-4.

Do ponto de vista do acesso a imagens do seu território, o Brasil já vem adquirindo imagens feitas por satélites estrangeiros desde 2009. Continuar importando estas imagens por mais um ou dois anos não irá fazer grande diferença. Além disso, o preço a ser pago com a antecipação do lançamento deste novo satélite será muito alto para o Brasil, por duas razões.

Em primeiro lugar, porque não haverá tempo hábil para se aprofundar na solução de todos os problemas técnicos enfrentados quando da integração do CBERS-3, em particular relacionados à falha de componentes eletrônicos importados dos EUA. Em segundo lugar, porque teremos de abrir mão de integrar o satélite no Brasil, perdendo uma oportunidade fundamental para se qualificar novos profissionais nas atividades de integração, e principalmente para justificar os investimentos de centenas de milhões de dólares feitos pelo governo no LIT, onde foram integrados apenas dois satélites para colocação em órbita nos últimos 12 anos.
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E mais:
"Prontos para o próximo CBERS?", reportagem do Jornal do SindCT (Panorama Espacial)

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