sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A 3.550km/h, veterano do wingsuit será o segundo brasileiro no espaço

Experiente nos esportes radicais, Luigi Cani, de 42 anos, será primeiro atleta do país a sair do planeta por meio de iniciativa privada: 'Recompensa'


(Globo Esporte) Em 29 de março de 2006, o astronauta Marcos Pontes entrou para a história ao se tornar o primeiro brasileiro e quinto latino-americano a viajar para o espaço sideral, na missão batizada de "Centenário", em referência à comemoração dos cem anos do voo de Santos Dumont a bordo do avião 14-Bis, ainda no século 20. Pouco mais de oito anos depois de Pontes, mais um habitante do país terá o privilégio de ver nosso planeta lá de cima. O experiente paraquedista, profissional do wingsuit e veterano dos esportes radicais Luigi Cani, de 42 anos, fará o voo mais incrível de sua vida no fim de 2014.

A diferença é que ele vai conhecer a vastidão do universo por meio de iniciativa privada. Marcos Pontes saiu do planeta devido a um acordo firmado no ano de 2005 entre os governos de Brasil e Rússia, representados pela AEB (Agência Espacial Brasileira) e a Roscosmos (Agência Espacial Federal Russa). Com mais de 11 mil saltos e 79 medalhas em competições ao longo de 17 anos de carreira, o atleta foi convidado pela empresa holandesa SXC (Space Expedition Corporation) para integrar um ousado projeto: dentro de uma espaçonave, sairá de uma pista de decolagem de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos, deixará a atmosfera terrestre, ficará orbitando com os motores desligados e fará a reentrada até a aterrissagem.

- Estava trabalhando em um projeto de um salto de grande altitude em Mojave, na Califórnia, e acabei fazendo contatos em 2012 que me renderam esse convite. Mas é uma coisa muito diferente. Por conhecer a procedência e a seriedade dos profissionais envolvidos, fiquei com a mente no espaço, literalmente (risos). Fiquei até meio tonto quando soube disso pela SXC. Foram seis meses de negociações, fui duas vezes para conhecer a empresa na Holanda e fazer reuniões. A intenção deles é fazer vários voos diários para o espaço. Levar duas pessoas, um piloto e alguém como uma espécie de co-piloto. Fazemos um curso e tem uma equipe toda que controla, é uma coisa bastante complexa. O interessante de estar sentado no banco do co-piloto é que ele é todo feito de vidro. Você tem uma visão gigante de 180 graus e enxerga tudo - comentou o "homem-pássaro", como é chamado, maravilhado com a oportunidade única.




Na subida, a espaçonave chegará a uma velocidade incrível de 3.550,21km/h. Para se ter uma ideia, os famosos caças a jato F-15 Eagle americanos atingem 3.017 km/h. A altitude máxima é de 338 mil pés, o equivalente a 103km. Nesse caso, Cani vai ultrapassar em 3km a chamada "linha de Kármán", que fica a 100km do nível do mar e é o limite teórico da atmosfera terrestre para o espaço exterior, onde a aurora boreal se manifesta. Depois de cinco ou seis minutos de subida, o brasileiro terá dez minutos para observar a paisagem do espaço e, por fim, fará o processo de descida, que demorá 45 minutos, já que a espaçonave precisa percorer um trajeto circular imaginário para perder velocidade até poder descer novamente na base de Mojave, na Califórnia. Ou seja, toda a viagem terá cerca de uma hora de duração.

Para Luigi, a chance dada pela SXC é um reconhecimento por seu trabalho em toda a carreira. Além dos saltos de paraquedas e wingsuit, o curitibano ainda tem os quadros "Homem Pássaro", do Esporte Espetácular, e "Radicani", do Caldeirão do Huck, e os programas "Sem Asas" e "Pedal & Ar", do Canal OFF. De acordo com o atleta, todos os seus saltos são projetos elaborados, com riscos calculados, e envolvem uma grande logística com uma equipe que o auxilia.

- Eu vejo isso como uma recompensa de muito trabalho e muita dedicação. Eu não esperava. Sou sonhador demais, sonho muito mesmo, mas confesso que não tinha tido esse sonho dessa forma ainda. Quando tive essa oportunidade, fiquei surpreso, achei bacana, mas não acho que é uma coisa que veio por acaso. É uma consequência de tudo o que já passei. A forma como pratico esporte é diferente. Cada salto é um projeto, tudo depende de muitos profissionais, é sempre uma ideia diferente, inusitada. Me sinto bem qualificado por tudo o que já fiz. É mais um sonho alcançado. Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance para aproveitar essa oportunidade, mas não depende só de mim para dar certo - afirmou o brasileiro, que acrescentou ainda que vê a iniciativa da empresa holandesa como um primeiro passo concreto para ajudar a popularizar o turismo espacial.


- Isso é o futuro. E eu não tenho dúvidas de que o turismo espacial é uma coisa que vá fazer parte do futuro de muitas pessoas comuns. Muito em breve, outros vão ter essa oportunidade de ir ao espaço. É como aconteceu com a aviação há um tempo. Na época em que não se voava de avião, você saía de um ponto A para o mesmo ponto A. Agora, você tem uma aviação moderna que passa pelo mundo todo. O passeio espacial de hoje é como os voos panorâmicos nos primórdios do turismo aéreo. Na realidade, todo esse investimento da iniciativa privada visa ao turismo aéreo no futuro.

A SXC está decidida a popularizar o turismo espacial em todo o planeta. O programa de viagens da empresa holandesa será intensificado ainda este ano, quando a espaçonave Lynx Mk I, partindo de Mojave, na Califórnia, levará participantes a cerca de 60km de altura. A partir do segundo semestre de 2014, a companhia passará a oferecer voos comerciais que alcançarão até 103km de altura, saindo de Curaçao, no Caribe, e também da Califórnia. O objetivo da empresa é ter viagens regulares saindo de Mojave e Curaçao a partir de 2015. Os voos custarão entre US$ 95 mil e US$ 120 mil - de R$ 207 mil a R$ 260 mil.



Treinamento envolve viagens em aviões supersônicos e cápsulas antigravidade
Para chegar ao segundo semestre de 2014 preparado para vivenciar a melhor experiência no espaço, Luigi está passando por treinamentos desde o ano passado. E a preparação envolve viagens em aviões supersônicos e cápsulas antigravidade em que o passageiro fica flutuando para saber como seu corpo reage nessa situação. Apesar de não ver dificuldades nas atividades, confessa que já passou por momentos desconfortáveis.

- O treinamento não é rigoroso. É divertido, tem algumas etapas bem bacanas. É claro que, fisicamente, digamos assim, a pessoa pode se sentir mal, enjoada, chegar próxima de um desmaio, isso é o máximo que acontece, mas é tudo muito interessante, o que você aprende sobre seu corpo, como ele funciona aqui embaixo com gravidade, lá em cima sem gravidade, sem referência, ele reage diferente. Eu acho que é relativamente simples. Durante o treinamento, você voa de avião supersônico, você anda num simulador tipo o da NASA que simula uma velocidade como a do som, que achei até um pouco desconfortável. Existem voos de simulação de gravidade zero, você fica dez segundos flutuando sem gravidade. É divertido - brincou Cani, que já chegou a ter um projeto para pousar de wingsuit sem paraquedas.



Experiência no espaço vai virar documentário de cerca de 1h nos cinemas
Com uma formação em produção de vídeos, Luigi Cani fundou a Cani TV, uma produtora que faz filmes de seus saltos de paraquedas, wingsuit e outras aventuras. A experiência no espaço não poderia ficar fora. Sua equipe tem feito gravações desde o momento em que o brasileiro começou seu programa de treinamentos e só vai parar após a viagem espacial. A expectativa do curitibano é que, de 30 ou 40 horas de gravações, eles consigam editar um vídeo de uma hora que vai virar um documentário para passar nos cinemas.

- Vamos fazer um documentário. A Cani TV, que produz tudo que eu faço, vai fazer um documentário para os cinemas. Filmamos nos Estados Unidos e em Amsterdã. Vamos fazer tudo até o dia do voo oficial. Isso vai gerar um conteúdo de 30 a 40h. Desse conteúdo, faremos um documentário de uma hora. Isso vai ser explorado através dos nossos quadros nos programas que participo também - concluiu.

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