quinta-feira, 18 de julho de 2013

Cobaia de astronauta


(Galileu) Aos 28 anos, Ricardo Bertoglio Cardoso coordena o laboratório de biomédica do Centro de Pesquisas em Microgravidade da PUC do Rio Grande do Sul. Com sua equipe, desenvolve produtos pensando na saúde dos astronautas no espaço. Mas seu ofício mais curioso é ser a cobaia das próprias criações — e de quase todas as outras do Centro. (Acima, ele simula uma massagem cardíaca em um ambiente de gravidade zero).

A convite da Agência Espacial Europeia, em 2006, ele embarcou em um voo parabólico (veja no box) para testar um coletor que tira sangue do lóbulo da orelha — em vez de veias, difíceis de serem captadas fora da Terra. A ideia é monitorar a quantidade de O2 na circulação, um dos indicativos da saúde dos astronautas.

A distribuição do sangue pelo corpo é outro deles. No espaço, os fluidos tendem a se concentrar na parte de cima do corpo, desgastando músculos e ossos inferiores. “É preciso fazer musculação para evitar isso”, conta Ricardo, que foi amarrado em uma cama de cabeça pra baixo com as pernas elevadas para simular a situação. A partir do experimento, os cientistas criaram uma câmara de pressão negativa em que se imerge o corpo até a cintura, fazendo o sangue descer também para os membros inferiores. Ricardo foi o primeiro a testá-la.

O engenheiro também já sentou e rodou 17 vezes na cadeira Barany, que inclina a cabeça em diferentes ângulos, simulando o conflito entre os sentidos que ocorre na falta de gravidade. “A visão diz que você está na vertical, mas seus pés não alcançam o chão e não podem confirmar a informação”, diz. Daí as tonturas e vômitos. Com o aparelho, pretende-se estudar remédios e dietas para conter a vertigem. “Desde meu primeiro estágio vi que trabalho em escritório não era para mim”, diz Ricardo, que assumiu uma função de outro planeta.


O ASTRO DO LABORATÓRIO
VOO PARABÓLICO: Simula a gravidade zero (a microgravidade). O avião acelera com força total e desacelera de uma vez, ficando em queda livre por 22 segundos e desenhando parábolas no ar. Tudo que está dentro da aeronave flutua. Em geral, são três dias de voo. Em cada um deles, 30 parábolas.

PESO LEVE: Nem tudo fora da Terra é microgravidade. Marte tem 1/3 da força gravitacional da Terra. A Lua, 1/6. Preso a cordas e suspenso do chão, pouco a pouco, Ricardo também simula o caminhar de astronautas nesses ambientes.

COMIDA NO ESPAÇO: O Centro também criou uma centrífuga para germinar vegetais em hipergravidade. Está pronta para venda.

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