segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Novos terminais nos EUA vão atender empresas que levam milionários ao espaço

(The New York Times / Folha) Espremido entre consultórios de um quiroprático e alguns oftalmologistas num shopping center de Rochester, Nova York, o escritório do DePrez Group of Travel Companies não aparenta ser o tipo de lugar onde alguém planejaria uma viagem até as estrelas.

Mas Craig Curran, o presidente da empresa, diz que é exatamente para as estrelas que ele pode levar seus clientes --desde que eles disponham de US$ 200 mil, é claro.

Curran é um "agente espacial credenciado" da Virgin Galactic, empreendimento fundado pelo magnata multifacetado Richard Branson, que promete levar centenas de passageiros endinheirados para cem quilômetros acima da Terra, numa nave futurista conhecida como SpaceShipTwo. O voo dura apenas duas horas, e são meros cinco minutos o tempo passado na faixa em que o peso do corpo deixa de ser sentido. Porém, a possibilidade de gabar-se dessa façanha é eterna.

"A experiência equivale a alguém dizer 'minha família veio para a América no Niña, Pinta ou Santa Maria [os navios de Cristóvão Colombo]", diz Curran. "Você vai fazer parte de algo novo."

A nave da Virgin Galactic poderá estar em operação já em 2013. Com isso, a empresa fará parte de apenas um punhado de companhias que estão competindo para levar astronautas amadores para as camadas mais altas da atmosfera -e para fora dela. Naquela que talvez seja a fronteira final do turismo radical, essas companhias estão oferecendo experiências que vão de alguns minutos de ausência de peso (por cifras de quase seis algarismos) até aventuras ao estilo das missões Apollo, que vão durar semanas (por valores de nove algarismos).

Esqueça desafios como escalar o Everest, caminhar até o Polo Sul ou subir o rio Amazonas de canoa. Que tal viajar para a Lua?

É exatamente esse o pacote que está sendo oferecido pela Excalibur Almaz, sediada na ilha de Man e que recentemente anunciou sua intenção de enviar pessoas --pessoas muito, muito ricas-- para um ponto de gravidade zero perto da Lua, para terem a maior experiência possível de distanciar-se das preocupações terrenas. O preço: cerca de US$ 150 milhões. Espere aí, você está tendo que apertar o cinto? Bem, a Space Adventures, na Virgínia, diz que por apenas US$ 50 milhões poderá levá-lo para a Estação Espacial Internacional, uma viagem que já foi feita por sete pessoas e que inclui 12 dias em órbita.

As opções de alojamento não o atraem? O proprietário da cadeia de hotéis Budget Suites of America, Robert T. Bigelow, diz que pretende lançar uma série de estações espaciais particulares (ainda não foi determinado o valor da diária).

Cientistas e outros atores da corrida espacial dizem que passar férias no espaço é algo que está prestes a virar realidade. "Não há dúvida alguma: nos próximos dois ou três anos vamos começar a ter turismo espacial comercial", disse Roger D. Launius, curador sênior de história espacial do Museu Nacional do Ar e do Espaço, no Instituto Smithsonian, em Washington. "Isso vai acontecer."

E há muita confiança na existência de interesse por experiências espaciais, mesmo que sejam breves. A consultoria Tauri Group, de Washington, especializada em questões espaciais, verificou que há um mercado potencial para voos suborbitais que pode movimentar até US$ 1,6 bilhão nos próximos dez anos.

O desejo de viagens desse tipo pode também ser consequência do fato de que estão acabando os lugares novos no mundo que as pessoas têm para conhecer.

"Hoje, praticamente cada centímetro quadrado da Terra já foi explorado por alguém", explicou Eugene Linden, que escreve sobre ciência e meio ambiente e é autor de "The Ragged Edge of the World", sobre os espaços selvagens do mundo que estão ameaçados. "Daqui a pouco vamos ouvir sobre alguém que atravessou a camada de gelo do Ártico oriental de patins, ou alguma coisa assim, para conseguir ter a sensação de ter realizado algo inédito."

Muitas das pessoas que lideram a investida para viajar ao Cosmos são homens ricos, como Richard Branson, e com egos grandes.

Há Elon Musk, o presidente da Tesla Motors. Ele fundou a empresa SpaceX, que desenvolve foguetes para transportar astronautas e cargas. E também Jeff Bezos, fundador e executivo-chefe da Amazon, tem a Blue Origin, que promete "acesso humano ao espaço a um custo dramaticamente inferior e com confiabilidade maior", com voos suborbitais e outros orbitais, de acordo com o site do empreendimento.

Empresas que planejam oferecer voos suborbitais já estão envolvidas no tipo de promessas de serviços e guerras de tarifas que são comuns entre as companhias aéreas. Enquanto a Virgin Galactic está cobrando US$ 200 mil, a Space Adventures, trabalhando com a Armadillo Aerospace, do Texas, diz que pode levar você ao espaço pela metade desse valor.

E ela nem sequer é a mais barata: uma firma chamada XCOR Aerospace está desenvolvendo um cupê jeitosinho chamado Lynx que pretende oferecer um voo para duas pessoas --você e o piloto-- por US$ 95 mil.

Os voos no SpaceShipTwo da Virgin levarão seis passageiros e dois pilotos. Acoplado a um jato de fuselagem dupla, a nave vai decolar do complexo Spaceport America, no sul do Novo México. Em seguida, vai subir até 15 mil metros de altitude, onde vai se desacoplar do jato e partir rumo a uma órbita mais alta. Haverá barulho e alguma força gravitacional considerável, mas, a partir do momento em que a nave chegar a cerca de 100 km de altitude, ela avançará em silêncio quase absoluto.

Nesse momento, os passageiros poderão desafivelar seus cintos e flutuar livremente na cabine, devido à ausência de gravidade, e fazer fotos da vista.

Paul Barbara, 54, vendedor de marinas e barcos de Babylon, Nova York, conta que desembolsou US$ 200 mil devido a sua obsessão pelo espaço. Ele disse que pretende perder algum peso antes do voo, mas que não sente medo nenhum. "Eu não faria 'bungee-jumping', mas vou voar para o espaço."

De acordo com a Virgin Galactic, a lista de passageiros já inclui um adolescente e uma pessoa de 90 anos.

As empresas ainda precisam passar por cima de todos os tipos de obstáculos regulatórios, legais e logísticos. Certos detalhes podem ser difíceis de resolver, como as datas de partida. Mesmo assim, mais de 500 passageiros estão confirmados.

Clientes da Space Adventure dizem que o custo se justifica. Richard Garriott, designer de videogames que cresceu em Houston, viajou para a estação espacial em 2008 e disse que o que é visto do espaço pode mudar a vida de uma pessoa.

"O momento mais impactante foi quando pude olhar para baixo e ver uma área que conheço intimamente, o Texas, e depois enxergar o resto do mundo", ele recorda. "Pensei: 'agora conheço a verdadeira escala da Terra por observação direta'."

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