quarta-feira, 30 de maio de 2012

Não Estamos Prontos para Decolar

Relatório recente da agência espacial russa revela sequência de falhas



(Scientific American Brasil) Em novembro passadoa Rússia lançou uma missão muito aguardada para a lua marciana Phobos. A nave coletaria amostras da superfície para ajudar a determinar se tripulações espaciais futuras poderiam obter suprimentos valiosos de oxigênio lá, a caminho de Marte. Para a Rússia a missão deveria marcar uma “carga de cavalaria”, que redimiria um quarto de século de impotência interplanetária. Em vez disso, se tornou uma humilhação cósmica quando o lançamento falhou.

Phobos foi uma de várias decepções recentes da Roscosmos, a agência espacial russa. Em agosto passado, uma nave de abastecimento Progress, que se dirigia para a Estação Espacial Internacional (ISS), caiu. Apenas uma semana antes, um novo e caro modelo de satélite de comunicação se perdera devido a erro de código de orientação e, no início de 2011, outro satélite militar foi enviado em uma órbita indevida, possivelmente pela mesma razão. O balanço geral de lançamentos espaciais russos ainda não é muito diferente do exibido por outras nações exploradoras do espaço, e o país transportou com sucesso dois grupos de astronautas para e da Estação Espacial Internacional, no ano passado. Mas é a natureza das causas aparentes dos acidentes, com frequência erros humanos surpreendentes, que mais assustam. Um relatório recente do acidente do Phobos confirmou os piores temores de alguns analistas ocidentais.

O relatório, publicado em russo no site da agência, indiretamente admitiu duas falhas fundamentais de projeto. Primeiro, a maioria dos mais de 90 mil microchips, esmagadoramente estrangeiros, nunca foi testada quanto à resistência à radiação no espaço e foram comprados com pleno conhecimento de que

não eram “adequados para esse ambiente”. Supostamente isso permitiu que raios cósmicos destruíssem os microchips dentro da nave exatamente no momento errado, o que levou o computador de bordo para o modo seguro, à espera de comandos de reparação da Terra, nunca enviados, devido a outra falha de projeto. (A maioria dos especialistas ocidentais acredita, porém, em falhas de software.)

Autoridades espaciais russas admitiram problemas no passado. Valery Ryumin, ex-cosmonauta e agora chefe-adjunto de projetos da empresa que constrói e opera veículos tripulados russos no espaço, relatou ao Echo, de Moscou, um dia após a queda do Progress que “a qualidade, é claro, está piorando e temos de admitir isso”. Ele acrescentou que “as verificações se tornaram muito mais superficiais que no passado soviético”. A principal razão para esta tendência é a perda de trabalhadores experientes e a incapacidade da indústria de atrair número suficiente de substitutos qualificados.

Na esperança de evitar outros acidentes desse tipo as autoridades espaciais russas parecem estar recuando para práticas da era soviética, exigindo mais controles, comitês, mais disciplina e, quando se justifica, mais punições.

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