sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Vamos a Marte?




















(Cássio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) Nossa amiga aqui do G1, a Marília, disse outro dia que ainda sonha em ser a primeira enviada especial a Marte. Depois deste post, sei não. Eu mesmo estou pensando em cancelar minha reserva…

No último dia 4 de novembro, encerrou-se o projeto Mars 500, experiência do Instituto para Problemas Biomédicos da Academia Russa de Ciências em conjunto com a Agência Espacial Europeia que simulou todas as etapas de uma viagem a Marte: a ida, a inserção em uma órbita adequada, o pouso na superfície e o retorno. O projeto começou dia 3 de junho de 2010, quando seis voluntários, que não são astronautas (o chefe da missão, por exemplo, é mergulhador) foram confinados em um espaço total de 550 metros cúbicos. Este espaço estava divido em cinco módulos diferentes: três deles simulavam a nave em si contendo os quartos de dormir (com 3 metros quadrados, cada), um espaço de “utilidades” (TV, centro de comunicação, equipamentos de ginástica, etc.) e uma enfermaria. O quarto módulo, conectado aos outros três) simulava a nave para o pouso e o quinto módulo (conectado ao quarto módulo) simulava a superfície marciana. Dos seis voluntários, três foram escolhidos para “descer” à Marte.

Durante os 520 dias do projeto, os voluntários nunca deixaram o solo, não experimentaram todos os efeitos de uma viagem tão longa, mas a ideia era avaliar principalmente como astronautas se comportariam em um espaço tão exíguo (eu mencionei que não havia janelas também?) durante tanto tempo. Foi muito mais uma experiência psicológica do que física. Ainda assim, dentro do quinto módulo os “astronautas” vestiam um traje espacial de 35 kg para mantê-los de cabeça para baixo quando iam dormir. Isso para para adaptar o corpo à gravidade de Marte.

A equipe era formada por um italiano, um francês, três russos e Wang Yue, um instrutor de adaptabilidade ao ambiente do Centro de Astronautas da China. Todos faziam exames regulares de sangue e urina, tomavam banho a cada dez dias e eram submetidos a testes psicológicos. Os três “sortudos” que pousaram em Marte (como Yue), eram submetidos a testes mais severos que quase os deixaram loucos. Em um deles, eles precisavam encarar um monitor que mostrava um círculo composto por 16 manchas redondas, todas em volta de um ponto. Conforme uma mancha se acendia aleatoriamente, eles precisavam arrastar o centro dessa mancha, com o mouse, até o ponto. Só que o mouse tinha vida própria, movendo-se também aleatoriamente!

Depois de confinado, o grupo passou a ter contato externo (com o comando da missão e parentes) apenas por voz. As transmissões de rádio eram atrasadas artificialmente de 20 minutos, para simular o tempo que elas levam para chegar a Marte. Além disso, após 50 dias do início da simulação, os sinais de rádio começaram a sofrer instabilidades para simular a ação do vento solar, conforme a “nave” se afastava da magnetosfera terrestre. Neste ambiente confinado, o grupo deveria ser totalmente autossuficiente, tanto para lidar com as mudanças de humor, quanto para lidar com os “imprevistos” da viagem, como uma falha de energia simulada pelo comando da missão, por exemplo.

Todos receberam a mesma dieta da Estação Espacial Internacional, mas, fora isso, cada um era responsável por si, ou seja, cada um tinha que lidar com suas alterações de humor, com sua rotina de atividades, monitorar suas condições físicas e mentais e tudo mais. Eles foram autorizados a levar livros, filmes e laptops e usavam a maior parte do tempo livre para se exercitar e estudar. Dentre as atividades preferidas estavam jogar video game e assistir filmes. Volta e meia a depressão atacava, em especial após assistirem Apollo 13, por isso desenhos animados eram os programas prediletos. O campeão de audiência, segundo Wang Yue, era Tom & Jerry.

Quando foram confinados na nave, os voluntários não tinham mais nada a ver com a vida externa, mas quando a o projeto acabou, enganou-se quem achava que o que eles mais quereriam seria voltar à vida normal. Yue confessa que sempre tenta escapar das atividades cotidianas de uma vida normal. Ele perdeu 10 kg e um bocado de cabelos, seu maior problema é se adaptar aos barulhos comuns do dia a dia e não consegue dormir direito. Por conta disso está recebendo ajuda psicológica em Pequim.

Wang Yue está sendo considerado um verdadeiro herói nacional, tanto que recebeu uma medalha do governo chinês. As contribuições no estudo das condições físicas e emocionais em viagens espaciais tão longas dadas pelo projeto Marte 500 são cruciais para o planejamento de missões futuras. Em uma das minhas viagens (não tão longas) aos EUA, ouvi um pesquisador da Universidade do Arizona comentar que a Nasa planeja até uma missão sem previsão de volta. Os astronautas eram tratados por colonizadores e teriam de se estabelecer em Marte, subsistindo por alguns anos até que uma nave não tripulada os trouxesse de volta.

Perguntado se toparia fazer de novo essa experiência, Wang Yue disse que sim, mas não exatamente agora. E você Marília, ainda topa ir a Marte?

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