sexta-feira, 1 de abril de 2011

Primeira 'caixa-preta espacial' sobrevive à reentrada na atmosfera terrestre


(O Globo) Sobreviver a uma reentrada na atmosfera terrestre não é uma tarefa fácil para qualquer objeto. Rochas do tamanho de um carro são completamente desintegradas no processo, que também vitimou o ônibus espacial Columbia em 2003. Embora sejam um equipamento padrão na aviação comercial há décadas, as caixas-pretas permaneceram ausentes da conquista espacial durante todo este tempo. Agora, a primeira "caixa-preta espacial" acaba de passar por este teste de sobrevivência.

Construída pela Aerospace Corporation de El Segundo, na Califórnia, a caixa-preta estava a bordo da HTV2, nave de carga não tripulada da Agência Espacial do Japão que deixou a Estação Espacial Internacional da semana passada. O robusto equipamento à prova de calor permaneceu enviando dados via satélite sobre sua condição enquanto a nave se desintegrava em sua descida rumo a um ponto do Oceano Pacífico entre a Nova Zelândia e o Chile.

Pode parecer pouco, mas sem essas caixas-pretas as investigações das causas de desastres como o do Columbia são muito difíceis. Além disso, sem dados sobre as temperaturas, pressões e acelerações enfrentadas durante a reentrada, os engenheiros pouco sabem sobre o quanto de uma nave sobrevive ao processo, já que ele geralmente acontece sobre os oceanos e seus restos são perdidos para sempre.

A Nasa só obteve detalhes sobre o que aconteceu com o Columbia porque, como foi o primeiro ônibus espacial a ser construído, ele estava equipado com cerca de 700 sensores de testes que acabaram funcionando como se fossem uma caixa-preta. Os dados destes sensores mostraram como tragicamente o plasma superaquecido produzido pela reentrada penetrou por um buraco em sua asa direita, derretendo a estrutura de alumínio da nave. Todos os sete astronautas a bordo morreram quando o Columbia desmontou sobre o Texas.

Sabendo que outros incidentes do tipo não teriam essas informações para sua avaliação, a Nasa e a Força Aérea americana decidiram licitar a criação da primeira caixa-preta espacial. Feita no formato de um cone de trinta centímetros de diâmetro e um quilo de peso, ela deve ser instalada em um local no qual possa se soltar facilmente da nave no calor da reentrada. A caixa-preta espacial, no entanto, não foi feita para ser recuperada como a de aviões. Em vez disso, ela transmite os dados de seus sensores para uma rede de satélites de comunicação, que depois os retransmitem para os controles de missão em terra.

Apesar disso, a caixa-preta a bordo do HTV2 sobreviveu ao impacto da reentrada da última quarta-feira, diz Bill Ailor, um de seus inventores, e continuou a transmitir dados por mais algumas horas. Esses dados serão analisados ao longo das próximas seis a oito semanas. No seu pedido de patente do equipamento, Ailor e equipe afirmam que querem usar as informações "para entender completamente quando e onde a desintegração ocorre, como uma nave se desintegra e a possível trajetória de seus restos". Assim, além do uso em investigações, a caixa-preta espacial pode ajudar os engenheiros a desenharem naves que se desintegrem mais facilmente na atmosfera, evitando o risco de que grandes pedaços caiam em áreas povoadas.
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