segunda-feira, 28 de março de 2011

Brasil encolhe programa espacial

Há cinco anos o tenente-coronel Marcos Pontes entrava para a história ao flutuar no espaço

(Zero Hora) Há cinco anos, o Brasil parou para ver o tenente-coronel Marcos Pontes flutuar no espaço e, de quebra, bater um papo com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Era a badalada estreia do astronauta brasileiro.

Valeu a pena? A realidade é que, apesar do voo de Pontes, o programa espacial brasileiro não decolou. Estudo da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados divulgado em fevereiro alerta para a fragilidade da política voltada a esse setor. Em 2010, o orçamento para o programa espacial foi de R$ 353 milhões, contra R$ 415 milhões em 2009.

O próprio diretor da Agência Espacial Brasileira, Carlos Ganem, admite que seria necessário o dobro dos recursos atuais. Os demais países do Bric (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), de porte econômico similar ao Brasil, destinam muito mais recursos públicos aos seus programas. A China investe mais de US$ 1 bilhão anual e planeja voos tripulados à Lua até 2020. A Índia tem orçamento superior a US$ 800 milhões ao ano, e a agência espacial russa conta com orçamento da ordem de US$ 2 bilhões.

No Brasil, as metas do programa espacial brasileiro são postergadas ano após ano. E não se trata de colocar astronautas no espaço – esse assunto sequer voltou a ser cogitado após o voo de Pontes. Está em permanente atraso o lançamento do Cbers-3 (satélite fabricado em conjunto com a China para monitorar o uso da terra), que deveria ter ocorrido em 2009 e foi adiado para 2011. Atrasado também está o lançamento do VLS 1 (foguete lançador de satélites), cujo lançamento do quarto protótipo estava previsto para 2007 – e está remarcado para 2011.

Estão previstos ainda lançamentos de três satélites geoestacionários até 2013, para comunicação de dados, sendo o primeiro deles conhecido como SGB, Satélite Geoestacionário Brasileiro. Caso esses artefatos não sejam colocados em órbita, o Brasil poderá perder posições orbitais definidas pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), ressalta a publicação especializada Tecnologia e Defesa.

A realidade é de que o Brasil já está sendo ultrapassado na corrida bilionária do lançamento de veículos espaciais, sobretudo os que transportam satélites – vitais para domínio de tecnologias como a TV Digital.

Segundo dados de 2008 da Space Foundation, naquele ano a atividade espacial mundial, incluindo bens e serviços, indivíduos, corporações e governos, movimentou US$ 257 bilhões, dos quais 35% em serviços satelitais comerciais, 32% em infraestrutura comercial, 26% só do orçamento espacial do governo dos EUA, 6% dos outros governos e somente 1% com lançadores e indústria de suporte. Os Estados Unidos detêm 41% do mercado global de satélites, deixando 59% para o restante do mundo. A participação do Brasil nesse mercado é de apenas 1,9%.

Pontes, apesar dos números teimarem em contrariá-lo, mantém o otimismo. Foi em 29 de março de 2006, às 23h30min, que sua odisseia se concretizou. Oficial da Força Aérea Brasileira (FAB), ele voou desde o Cazaquistão, numa nave russa Soyuz TMA-8, até a Estação Espacial Internacional, onde permaneceu oito dias. Levava numa mochila 15 quilos de carga da Agência Espacial Brasileira, incluindo oito experimentos científicos criados por universidades e centros de pesquisas brasileiros.

Levantamento da época indica que os 10 dias da jornada à ISS custaram aos cofres públicos cerca de R$ 40 milhões. Isso se somados pagamento da viagem e oito anos de treinamento de Pontes na Nasa (agência espacial norte-americana). Pontes, hoje com 48 anos, diz que faria tudo de novo. Aliás, quer fazer.

– Aquilo funcionou como um cartão de visitas do programa espacial brasileiro. É um credenciamento. Fui o primeiro e espero não ter sido o último – afirma.

A presidente Dilma Rousseff (PT) acena com investimentos no programa espacial brasileiro. Na semana passada, ela prometeu retomar a ideia de lançamento de satélites, inclusive com foguete próprio. Não citou cifras.

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