terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

EUA e UE planejam foguete de baixo custo

Projeto pode redefinir as ambições dos americanos e servir para dar uma nova cara à Nasa

(The Wall Street Journal / Valor Econômico / JC) Uma nova parceria entre empresas da Europa e dos Estados Unidos está dando o maior passo até agora para o compartilhamento de tecnologia de foguetes espaciais. Ela quer construir um foguete comercial confiável que leve astronautas e material científico americanos ao espaço.

A fabricante de foguetes de combustível sólido Alliant Techsystems Inc. e uma unidade da European Aeronautic Space & Defence Co. estão se aliando para propor o desenvolvimento de um foguete de 90 metros - batizado como Liberty - que ambas as empresas veem como um potencial ponto de inflexão nas ambições espaciais do governo americano. A empreitada deve ser anunciada hoje.

Se tiver sucesso, o plano pode ajudar a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA, a Nasa, a poupar dinheiro e ao mesmo tempo acelerar o desenvolvimento de uma substituição de sua frota de ônibus espaciais que estão sendo aposentados. Ao reduzir de maneira significativa os custos de lançamento tradicionais, a sociedade vai também servir como catalisador do avanço de projetos comerciais como o de um hotel inflável, proposto para ficar em baixa órbita e atender a potenciais turistas espaciais, preveem os proponentes do negócio.

Mas a iniciativa, que enfrenta obstáculos financeiros e políticos nos EUA, também foi desde o início planejada para dar um empurrão nas duas empresas. Ela procura combinar tecnologia exclusiva de ambos os lados do Atlântico.

"Os dois sistemas de lançamento" que foram combinados no foguete proposto "combinam melhor do que qualquer um de nós podia imaginar", disse Charlie Precourt, vice-presidente e gerente-geral de sistemas de lançamento espacial da Alliant. "Nada mais", disse ao Wall Street Journal, "poderia minimizar os custos de desenvolvimento" tanto assim nem oferecer "um início tão encorajador".

A Alliant Techsystems, uma das maiores fornecedoras do ônibus espacial, tem sofrido com a decisão da Casa Branca de terceirizar funções básicas da Nasa e contratar táxis espaciais - desenvolvidos e na maior parte operados pela indústria privada - para transportar carga e astronautas à Estação Espacial Internacional. A empresa americana busca nova estratégia para concorrer nesse cenário inédito.

A Eads e sua divisão Astrium tentaram sem sucesso durante anos conseguir contratos espaciais civis nos EUA, inclusive com a Nasa. Agora, a potência aeroespacial europeia encontrou um possível meio de entrar nesses mercados.

Projetado para levar mais de 22 toneladas até a órbita terrestre baixa, o foguete proposto teria potência mais ou menos equivalente à dos maiores propulsores de carga pesada dos EUA e da Europa. De acordo com a Alliant Techsystems, o preço visado é menos de US$ 180 milhões por lançamento, ou até 40% menos que o custo dos lançamentos mais caros da Nasa e da força aérea americana fornecidos por uma joint venture da Boeing Co. com a Lockheed Martin Corp. Os foguetes Liberty serão capazes de transportar astronautas e suprimentos essenciais para manter a estação espacial operando até a próxima década. As parceiras se negaram a discutir os custos de desenvolvimento projetados.

A medida aumenta a pressão em rivais como Boeing, Lockheed e a Space Exploration Technologies Corp., interessadas nos mesmos contratos para levar astronautas e carga para a estação espacial.

Mas antes de qualquer coisa, a sociedade precisa persuadir a Nasa a dar-lhe financiamento inicial de um programa de US$ 200 milhões elaborado para o estímulo a empreendimentos espaciais comerciais. Várias rivais esperam parte daquele dinheiro. Antes de começar o desenvolvimento pleno, os sócios da Liberty também terão de achar um meio de manobrar em meio aos obstáculos políticos previstos no Congresso americano.

A proposta, contudo, coincide com as políticas da Casa Branca e da Nasa que enfatizem sociedades espaciais comerciais e encorajam maior cooperação internacional numa série de iniciativas espaciais.

A Eads e a Alliant Techsystems argumentam que têm uma vantagem significativa sobre as rivais porque seu foguete deve ser um híbrido de tecnologias americana e europeia existentes, projetado desde o princípio com mecanismos de segurança adicional necessários para transportar os astronautas. Isso reduz custos e o tempo de desenvolvimento em relação a muitos rivais, dizem os proponentes. O desenvolvimento de um novo foguete, a começar por componentes não testados, pode custar vários bilhões de dólares e mais de dez anos de trabalho.

"Se as portas forem abertas" e a Nasa concordar em arcar parcialmente com os custos do trabalho no foguete, diz Alain Charmeau, diretor-presidente da divisão de transporte espacial da Astrium, "teremos claramente uma estratégia para entrar nesse mercado".

Contando com equipamento derivado do ônibus espacial e com um voo de teste inicial projetado para talvez já em 2013, o Liberty pretende preservar parte da tecnologia e dos empregos associados com os ônibus. O foguete deve operar a partir do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, o que pode acabar sendo um importante atrativo para a Nasa, as autoridades da Casa Branca e os líderes do Congresso ansiosos em minimizar as demissões e o impacto na Flórida.

Outras partes do foguete proposto são derivadas do europeu Ariane 5, o principal foguete lançador comercial do mundo, que é comercializado pela Arianespace, outra filiada da Eads. Grupos anteriores de empresas americanas que envolviam sócios russos ou europeus não envolviam essas trocas amplas de tecnologia.

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