Acordo com governo americano preocupa agência e compromete projetos
(The New York Times / Veja) Aonde ir depois? E quando?
Para a NASA, que tenta encaixar um programa de voos espaciais tripulados dentro de um orçamento federal apertado, a resposta parece ser “para algum lugar” e “nem tão cedo”.
Quando os ônibus espaciais forem aposentados este ano – e apenas um único voo de cada três ficar disponível – a NASA não terá mais como mandar os astronautas americanos ao espaço com seus próprios recursos.
O que vem depois é uma confusão.
O programa que envia astronautas de volta à Lua, conhecido como Constellation, foi cancelado no ano passado.
No lugar dele, o Congresso pediu que a Nasa construísse um foguete de carga pesada, que possa ir longe no espaço. Mas a agência afirma que possivelmente não terá como construir tal foguete dado o prazo e o orçamento que lhe foi dado.
Outro componente crucial na nova missão da Nasa– ajudando empresas comerciais a desenvolver táxis espaciais para colocar astronautas em órbita – está recebendo menos verba do que o governo Obama solicitou. Empresas como a Boeing e a SpaceX, que estão interessadas em dar um lance para custear o trabalho, não sabem ainda se conseguem fazer disso um risco lucrativo.
Quando se trata do futuro da Nasa, “é difícil especular algo a essa altura”, disse Douglas R. Cooke, membro da diretoria de sistemas de missão de exploração da agência, durante entrevista.
Um conselho que supervisiona a segurança na NASA publicou uma nota de incerteza em seu relatório anual, divulgado este mês. “Qual a missão de exploração da instituição?", questionaram os membros do Conselho Consultivo de Segurança no Espaço Aéreo em seu relatório.
E o conselho complementou: “Não está dentro dos interesses do país continuar dessa maneira. O Congresso, a Casa Branca e a Nasa devem imediatamente chegar a uma posição consensual sobre o futuro da agência e o futuro dos Estados Unidos no espaço”.
Uma preocupação que persiste é de que o acordo deixe a agência sem verba suficiente para conseguir fazer qualquer coisa, e de que – mesmo que bilhões de dólares sejam gastos – o futuro destino e a agenda dos foguetes da Nasa terminem sendo “lugar nenhum” e “nunca”.
Nesse caso, voos espaciais tripulados consistiriam apenas no trabalho a bordo da Estação Espacial Internacional, com os russos fornecendo o transporte a astronauta indefinidamente.
“Estamos num caminho cuja probabilidade de um desfecho ruim vem aumentando”, disse Scott Pace, antigo oficial da NASA que agora dirige o Instituto de Política Aérea na Universidade George Washington.
Um estudo da agência finalizado no mês passado, demonstrou uma grade de voos espaciais dentro dos próximos vinte anos, mas adiou estabelecer destinos específicos, muito menos cronogramas para se chegar lá. Uma das conclusões do estudo foi a de que tentar enviar astronautas a um asteróide em 2025 – como o presidente Barack Obama desafiou a Nasa a fazer em abril – não era “prudente”, porque poderia ser caro e limitado.
No lugar disso, o estudo defendeu uma “grade de voos mediante capacidade” – desenvolvendo elementos tais como espaçonaves, sistemas de propulsão e estações habitáveis, que poderiam ser usados e reutilizados para uma série de missões de exploração.
Enquanto isso, em Washington, a briga é menos um conflito de grandes visões do que um desentendimento sobre dinheiro e detalhes do design de um foguete.
No último outono, ao passar uma autorização para a Nasa, que esquematizou uma planta para os próximos três anos, o Congresso determinou que a agência começasse a trabalhar num foguete de transporte de carga pesada.
Disse ainda que o design deveria ser baseado em tecnologias disponíveis dos ônibus espaciais já existentes e do Constellation; o foguete deveria estar pronto ao final de 2016, e a Nasa teria cerca de 11,5 bilhões de dólares para desenvolvê-lo.
Na época, o senador Bill Nelson, democrata da Flórida que ajudou a formatar a planta feita pela agência, disse: “Se nós não podemos fazer algo com o que estão dando, então devemos questionar se podemos ou não construir o foguete”.
A planta, definida em lei pelo presidente Obama em outubro, deu para a instituição 90 dias para explicar como eles iriam construir o foguete.
Há duas semanas, a agência informou ao Congresso que havia optado por designs de sua preferência para o foguete e para a cápsula da tripulação que leva os astronautas, mas não conseguia ainda encaixá-los no cronograma programado e nas restrições de verba.
“Todos os nossos modelos dizem ‘não’”, afirmou Elizabeth Robinson, CFO da Nasa, “até mesmo modelos que possuem considerações generosas de preços acessíveis”.
Ela disse que a agência continua a explorar uma maneira de como poderia reduzir os custos.
Dois dias após receber o relatório, Nelson contou que teve de falar com o diretor da Nasa, o general Charles F. Bolden Jr. "Disse que ele precisa seguir a lei, que exige que o novo foguete esteja pronto até 2016”. E completou: “E a Nasa precisa construí-lo dentro do orçamento que a lei exige”.
O histórico do desenvolvimento de projetos de grandes naves espaciais, tanto dentro como fora da agência, é de que eles custam muito mais e levam mais tempo do que o inicialmente previsto. Se os custos do foguete aumentarem, o projeto poderia, assim como o programa Constellation, desviar verba de outros departamentos da Nasa.
Desta forma, especialistas se perguntam como a agência conseguirá bancar o foguete de transporte pesado e os táxis comerciais espaciais, que supostamente devem iniciar os voos no mesmo período.
“Eles estão se programando para um longo projeto de desenvolvimento cuja realização está muito além do horizonte”, comentou James A.M. Muncy, consultor de política espacial, sobre o design do atual transporte de carga pesada. “A pergunta é, o que mais o Congresso quer? Eles querem somente manter o contrato dos prestadores de serviço, ou eles querem que os Estados Unidos explorem e espaço?”
Ele chamou a situação na Nasa de “descarrilamento”, onde “todos os que estão envolvidos sabem que é um descarrilamento”.
O Constellation teve início em 2005 no governo Bush, visando retornar à Lua em 2020 e estabelecer uma base por lá nos anos seguintes. Mas o projeto nunca recebeu todo o dinheiro prometido desde o início, o que desacelerou o trabalho e a conta final.
Quando Obama concorria à candidatura presidencial, disse apoiar o objetivo de retornar à Lua. Mas depois que assumiu o cargo não demonstrou tanto entusiasmo. O orçamento dele para o ano fiscal de 2010 não visava cortes de imediato no Constellation, mas reduziu os gastos projetados para os próximos anos.
O governo também organizou um conselho de excelência, liderado por Norman Augustine, antigo diretor da Lockheed Martin, para revisar o programa. O conselho concluiu que o Constelattion não caberia dentro do orçamento estipulado – 100 bilhões de dólares em 10 anos – e demandaria 45 bilhões de dólares a mais para funcionar. Estender o trabalho da estação espacial por mais cinco anos depois de 2015 demandaria outros 14 bilhões, disse o grupo.
O conselho tampouco conseguiu encontrar uma alternativa que se encaixasse. Disse que para um programa expressivo de voos espaciais tripulados, a Nasa precisaria de 128 bilhões de dólares - 28 bilhões a mais do que o governo pretendia disponibilizar – nos próximos dez anos.
Se o país não estava disposto a gastar tanto assim, deveria ter solicitado à agência que fizesse algo menor, disse o conselho.
Em fevereiro, ao revelar a projeção do orçamento para o ano fiscal de 2011, o governo Obama disse que queria cancelar o programa Constellation, voltar-se para empresas comerciais de transporte aéreo que chegassem à camada mais baixa da órbita terrestre e investir pesado em pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias para futuras missões no espaço profundo.
O orçamento de Obama requeria mais verba para a Nasa – mas para outros departamentos da agência como aviação e missões de ciência robótica. A permissão de uso de verbas sugerida para voos espaciais tripulados continuava em níveis cujo conselho de Augustine afirmava ser inviável.
Na tentativa de forçar o cancelamento do Constellation, vários representantes do governo Obama o chamaram de “impraticável”, tão caro que o projeto capengou por anos sem progresso compreensivo.
“O fato de termos despejado 9 bilhões de dólares num programa impraticável de fato não é desculpa para injetar mais 50 bilhões nele e ainda assim continuar com um programa irrealizável”, disse James Kohlenberger, chefe de equipe do Departamento de Política de Ciência e Tecnologia da Casa Branca, durante uma conferência de imprensa em fevereiro do ano passado.
O objetivo maior de pisar em solo de Marte, que Obama disse esperar da Nasa por volta da metade da década de 2030, está ainda mais longe no futuro.
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