(Jornal do Commercio) Em 22 de novembro de 2003, o programa espacial brasileiro sofreu um golpe trágico. A explosão de um foguete lançador de satélites na Base de Alcântara, no Maranhão, matou 21 técnicos e engenheiros que se encontravam na torre de lançamento. Enquanto a Aeronáutica creditou o acidente a “problemas de ignição”, comissão da Câmara dos Deputados apontou a falta de investimentos em segurança como a principal causa da tragédia. O governo federal prometeu punir os responsáveis, mas arquivou o caso, assim como o Ministério Público Militar.
No último dia 12, um foguete de médio porte, de tecnologia nacional, foi lançado com sucesso da base. Com autonomia para 250 quilômetros de voo e capacidade de 400 quilos, o VSB-30 percorreu 100 quilômetros de altitude e realizou dez experimentos em ambiente de microgravidade. Após menos de duas horas de testes, a carga caiu no mar para ser resgatada. Os resultados serão analisados pelas instituições que enviaram os experimentos. O foguete foi desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), em parceria com a agência espacial alemã. Cada unidade custa R$ 300 mil. Em 2007, a carga de um VSB-30 foi completamente perdida ao sair de Alcântara. Após quase dois anos fechada, a base retomou as atividades em maio de 2009, com um foguete de treinamento, sem carga útil, que permaneceu no ar durante cinco minutos. Por isso, o êxito do evento no dia 12 foi considerado como importante passo para o nosso programa espacial.
No ano que vem, graças à parceria firmada com a Ucrânia, deve partir de Alcântara o primeiro foguete para lançamento de satélites. Mas a previsão para a colocação em órbita de um satélite genuinamente nacional é para daqui a apenas quatro anos. Testes devem ser feitos neste sentido em 2012 e 2013, com versões aprimoradas do mesmo tipo de lançador que provocou a tragédia em 2003. Espera-se que os procedimentos de segurança sejam reforçados, para evitar a perda de vidas caras ao desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico brasileiro. Uma nova torre de integração foi erguida, ao custo de R$ 43 milhões. Aliás, o alto custo do projeto em parceria com a Ucrânia tem recebido críticas, como acontece em todos os países com programas espaciais. O capital brasileiro será de R$ 519 milhões, que é o preço da plataforma para o foguete ucraniano Cyclone-4. A Ucrânia deverá aportar valor semelhante. O projeto prevê a realização de quatro a seis lançamentos por ano.
Outras áreas para lançamentos estão sendo procuradas no País, nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Pará e Amapá, sem esquecer o Maranhão. Os locais precisam estar próximos à Linha do Equador, onde a velocidade de rotação do planeta ajuda a impulsionar os foguetes e reduz o gasto de combustível em até 30%. O Brasil está decidido a entrar no lucrativo mercado de lançamento comercial de satélites, que movimenta cerca de US$ 2 bilhões anualmente. Trata-se ainda de um mercado restrito, que efetua algumas dezenas de lançamentos a cada ano, sobretudo pelos Estados Unidos e pela Rússia. O problema é o custo. A média orçamentária de todo o programa espacial brasileiro desde 2005 é inferior a R$ 300 milhões. Parcerias público-privadas e acordos internacionais são opções consideradas pelo governo federal para a viabilização do sonho de se tornar o primeiro país latino-americano com tecnologia de lançamento de foguetes e satélites.
A expansão da base no Maranhão, apesar de tida como vital para as pretensões do programa espacial, está comprometida pela disputa territorial com comunidades quilombolas (descendentes de escravos). Em 2008, um terço da área da base foi destinada pela Justiça às famílias remanescentes de quilombos. O Ministério da Defesa possui um projeto para dobrar o tamanho da Base de Alcântara, relocando os quilombolas e oferecendo compensações na forma de empregos e serviços de educação e saúde para as famílias. Um acordo com a população residente seria a melhor saída, possibilitando o desenvolvimento nacional, mas compartilhando os benefícios sociais e econômicos de Alcântara com a comunidade.
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