segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O ocaso dos ônibus espaciais

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) Enquanto o ônibus espacial Discovery espera pacientemente em sua rampa de lançamento pelo disparo que mais uma vez o colocará em órbita da Terra, observadores habituados ao que se transformou em rotina nos últimos tempos devem considerar que em breve esta será uma cena soterrada no passado.

A partir do próximo ano a frota remanescente de ônibus espaciais da Nasa será definitivamente transformada em peças de museu.

Veículos russos, ao menos temporariamente, ficarão encarregados de abastecer de alimentos e cargas a estação espacial internacional que lentamente toma forma em torno da Terra.

Com a aposentadoria definida desses veículos chega ao fim uma longa controvérsia que dividiu boa parte da comunidade americana e internacional envolvida com a exploração espacial.

Enquanto alguns saudaram a chegada dos ônibus como algo indispensável à exploração do espaço, especialmente com a construção da estação espacial, outros não pouparam críticas.

Os que se opuseram aos ônibus apontaram custos elevados e exposição desnecessária de vidas humanas num projeto que teve mais relação com o uso militar que científico em relação ao espaço.

De fato, trabalhos importantes em Marte, Júpiter e Saturno, sem falar de uma nave que viaja para Plutão, onde deve chegar em 2015 (desde que ela saiu da Terra Plutão caiu da categoria de planeta para planeta-anão) são desenvolvidos por sistemas automáticos.

Os críticos dos ônibus espaciais sempre defenderam que robôs e não seres humanos devem enfrentar as condições agressivas e perigosas do espaço.

Excetuando incêndios no solo, como ocorreu com a Apollo1 (26 de fevereiro de 1966) e mortes na reentrada da atmosfera, caso de uma cápsula russa e os óbvios acidentes que mataram tripulantes da Challenger (em 27 de janeiro de 1986) e Columbia (1º de fevereiro de 2003) nenhum acidente matou astronautas em órbita da Terra ou fez com que um corpo humano fosse abandonado no espaço.

Mortos cujos restos retornaram à Terra talvez tenham um impacto amenizador se comparado a um corpo incapaz de ser resgatado no espaço por uma de várias razões possíveis.

Mas quando um acidente desse tipo ocorrer, e ele ocorrerá, o impacto deverá fazer com que revisemos a concepção das explorações espaciais que permeia o senso comum.

Isso, no entanto, deverá apenas adiar, mas nunca substituir em definitivo a presença de homens e mulheres no espaço.

Eventualmente em viagens que nos levarão a Marte e, numa época mais distante, talvez para estrelas vizinhas como o sistema estelar triplo de Alfa do Centauro.

Ou o sistema binário de Sirius, se levantamentos demonstrarem que um mundo como a Terra existe em torno desses outros sóis.

Ao menos foi o que demonstrou o pai da astronáutica, o professor russo Valentin Tsiolkovski, quando disse que “a Terra é o berço dos homens, mas ninguém pode viver eternamente no berço”.

Como uma espécie de anúncio de um futuro próximo, um robô humanizado, o Robonaut 2, segue para a estação espacial neste vôo ainda indefinido do Discovery.

Reproduzindo um humano da cintura para cima, com mãos eletromecânicas de cinco dedos, o robô de US$ 2,5 milhões excita a imaginação dos pesquisadores da agência espacial norte-americana pelo potencial que representa.

A expectativa é que ajudem os astronautas em órbita, em tarefas arriscadas, especialmente em operações fora da nave (Eva), quando podem ser atingidos por micrometeoritos.

Os últimos vôos dos ônibus especiais de certa forma reeditam o que já ocorreu com as cápsulas de retorno do programa Apollo que conquistou a Lua nos movimentados anos 60.

Várias delas estão expostas em museu americanos como o Smithsonian, em Washington, visivelmente calcinadas pelo fogo de reentrada na atmosfera.

Elas são uma clara evidência de que, de muitas maneiras, já visitamos o futuro.

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