quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Agência Espacial Europeia lança amanhã o Cryosat 2, que tem capacidade de medir a quantidade de água congelada nos continentes e oceanos

(Correio Braziliense) A ciência deve ganhar amanhã um outro aliado no monitoramento do efeito estufa. O satélite russo Cryosat 2 será lançado da base de Baikonur, no Cazaquistão, com a missão de, uma vez em órbita terrestre, medir com precisão a altitude dos gelos continentais e a profundidade de blocos de gelo flutuantes.

O lançamento ocorre cerca de quatro anos depois do fracasso da tentativa de colocar em órbita o Cryosat 1. Em 8 de outubro de 2005, a missão falhou devido a um problema em um dos motores do foguete russo Rockot, que resultou na destruição do equipamento que havia custado US$ 187 milhões. A missão marcada para amanhã integra o projeto Planeta Vivo (1), que busca coletar dados precisos sobre a Terra.

O estudo do derretimento dos gelos polares, comprovado no Hemisfério Norte, é considerado fundamental para a compreensão do aquecimento climático. Ao refletir a luz do sol, a massa branca dos gelos limita a quantidade de calor absorvida pela Terra. As placas de gelo flutuantes atuam diretamente como um isolante, ao reduzir em grande medida as trocas de calor entre o oceano congelado e a atmosfera. Por último, o derretimento das calotas polares faz subir o nível dos mares em um ritmo que passou de 1,8mm por ano para 3mm anuais, no transcurso do último meio século.

“O gelo cobre 15 milhões de quilômetros quadrados da Terra, o que equivale a 30 vezes a superfície da França. Em torno do Polo Norte, a cada ano, uma área equivalente à superfície da Europa se congela e se descongela”, explica Michel Verbauwedhe, coordenador dos Programas de Observação da Terra da Agência Espacial Europeia (ESA).

Os cientistas já dispõem de dados circunstanciais e algumas medições fornecidos por outros satélites, como o Envisat, mas nenhum está especificamente dedicado à observação do gelo. “A altura muito precisa dos gelos continentais e a espessura dos gelos do mar são uma dimensão que faltava aos geofísicos”, disse Eric Perez, diretor dos Programas de Observação da Terra na Astrium, construtora do satélite da ESA.

Calculada pela onda refletida dos radares altímetros desenvolvidos pela Thalès Alenia Space, e graças ao instrumento de geolocalização Doris do Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES), esta espessura será medida com uma precisão de 2cm a 5cm.

“O Cryosat sabe fazer a diferença entre a onda refletida na água e a refletida no gelo que emerge”, afirmou Perez. Graças ao princípio de empuxo de Arquimedes, é possível conhecer a espessura do conjunto de banquisas ou icebergs, aproximadamente 10 vezes maior do que a parte aparente.

Para garantir sua estabilidade, o Cryosat, que sobrevoará a Terra a 720km de altitude, é um satélite de 700kg bastante compacto, cujos painéis solares, vinculados à estrutura, não se desdobram. Se tudo correr bem, o Cryosat deve começar a fornecer dados para a comunidade científica a partir de meados do ano. Trezentos cientistas estão interessados nessas informações, afirmou Verbauwedhe.

1 - Outros satélites
O Cryosat 2 é o terceiro satélite do programa Planeta Vivo, iniciado com o lançamento do GOCE, enviado ao espaço para conhecer o formato exato da Terra por meio da medição de seu campo gravitacional. Em seguida, foi lançado o SMOS, que detecta a umidade dos solos e a salinidade dos oceanos.

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